Pode ser ainda uma "intenção", mas a divulgação pelo Expresso da possibilidade de João Maria Jonet avançar como candidato nas autárquicas do próximo ano, para liderar Cascais, uma das câmaras mais ricas do país, já mostra vontade de testar mais do que a disponibilidade de quem o hoje comentador da SIC pondera ter ao lado nesse movimento.
É um primeiro passo na vida política, que dá aos 26 anos, o limite que o próprio impusera para decidir se queria deixar-se envolver na política ativa? "Ainda não dei o passo em frente... mas na verdade eu já estou na política. Sou militante do PSD, fiz trabalho para o partido. Comento na televisão assumindo essa militância. Para mim, isso é estar na política", responde, em entrevista ao SAPO.
"Não quero fazer política de cima para baixo" e por isso foi em resposta à comunidade, não ao partido — que aliás tem já candidato anunciado (o atual vice-presidente, Nuno Piteira Lopes) —, que começou a pensar e a aconselhar-se sobre essa possibilidade. "E não escondi os meus contactos", diz.
Mas não gostaria que o PSD o apoiasse, de candidatar-se pelo partido que é o seu? "Eu sou militante do PSD. Idealmente não queria ser candidato contra o meu partido. Mas gostava sobretudo que o PSD tivesse um candidato melhor do que aquele que indicou. Eu não sou a última Coca-Cola do deserto, mas com os anticorpos que este candidato tem, não vai ser bom."
Muito crítico da escolha de Sebastião Bugalho como cabeça-de-lista da AD às Europeias deste ano, pela notoriedade obtida enquanto comentador e falta de experiência — "não basta ser jovem, Santana Lopes foi cabeça-de-lista com 30 anos, mas já tinha sido assessor de Mota Pinto e Sá Carneiro, secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros de Aníbal Cavaco Silva, deputado... é completamente diferente ter um percurso político e partidário e não ter", afirmou (versão completa aqui) —, Jonet pondera agora ser candidato autárquico. O que o distingue de Bugalho?
"Tudo. Eu não me escondi atrás da ideia de ser jornalista, sempre fui político, as minhas opiniões vinculam-me como pessoa que admite publicamente ter aquele pensamento." E depois há o palco, explica: "Não estou a propor-me a cabeça-de-lista do maior partido do país a um cargo europeu; é uma câmara onde tenho fortes raízes, onde cresci, já fui candidato autárquico e que conheço bem. Forçosamente, são espaços diferentes."
De qualquer forma, "a decisão ainda não está tomada", garante, insistindo que está a "ponderar", ainda "sem certezas". "Na altura em que me sugeriram que avançasse, achei uma ideia peregrina, mas entretanto fui fazendo contactos mais políticos…"
"Gostava sobretudo que o PSD tivesse um candidato melhor do que aquele que indicou. Eu não sou a última Coca-Cola do deserto, mas com os anticorpos que este candidato tem, não vai ser bom."
Aos primeiros argumentos, que lhe chegaram de associações locais como as que se constituíram para defender o Parque das Gerações, a Aldeia do Juzo ou a Quinta dos Ingleses contra o que entendem ser excessos da urbanização, juntou os conselhos de históricos sociais-democratas, como António Capucho, e de insatisfeitos como João Sande e Castro (cuja candidatura independente apoiou em 2017). Alargou a consulta a uma rede mais vasta de pessoas em quem reconhece valor, da sociedade civil mas também de vários partidos, incluindo o PSD e nele personalidades que ocuparam ou ocupam cargos políticos de grande relevância.
E o que será determinante para fechar a decisão — ou desistir da ideia? A resposta traz a rapidez de quem já vem consolidando a vontade e tem conhecimento do que uma candidatura, para mais independente, requer: "A equipa que conseguir constituir. A capacidade de fazer uma lista agregadora e de ela ter apoio financeiro para fazer campanha. Até agora não ouvi ninguém que me dissesse que era péssimo, mas estou à procura. Conseguir construir uma equipa de pessoas disponíveis a candidatar-se, a fazer parte de uma lista que quer servir o município, é muito diferente de ter uma rede de apoiantes", explica, em entrevista ao SAPO.
Alguns desses nós poderiam desfazer-se simplesmente com o apoio do partido em que milita, mas João Maria Jonet não vê possibilidade de se candidatar senão como independente.
"Em Cascais há uma cultura muito pouco democrática, comparável à do PSD Madeira (...) Eu candidato-me porque acho que alguém tem de o fazer."
Com a saída de Miguel Pinto Luz, que se perfilava como candidato natural, para assumir a pasta das Infraestruturas no governo de Montenegro, Carlos Carreiras (que está no limite de mandatos em Cascais) passou a sucessão para o atual vice-presidente. Nuno Piteira Lopes foi o nome escolhido pela concelhia, mas a decisão terá ainda de passar no crivo da direção do PSD.
Poderia voltar-se atrás? "Tenho enormes dúvidas de que isso pudesse acontecer, até porque Nuno Piteira Lopes é presidente da concelhia; e o PSD de Cascais é pouco propício ao debate, tem mais histórico na supressão de qualquer voz de oposição, em calar a crítica, por mais construtiva que seja", responde Jonet, antes de resumir: "É uma cultura muito pouco democrática, comparável à do PSD Madeira."
João Maria Jonet, que nasceu e cresceu em Cascais e até tem um bisavô que liderou aquela câmara, lamenta a ideia de que quem está tem o poder de decidir e sobretudo que, na tal lógica da estrutura partidária sobreposta ao serviço público, não se tenha optado por nomes alternativos nos quais reconhece valor.
"Se o candidato pelo PSD fosse Pinto Luz, ou Ricardo Baptista Leite, ou Joana Balsemão, por exemplo, que têm trabalho feito e conhecimento de Cascais e da área autárquica, eu não seria candidato. Mas os incentivos aqui estão todos errados. Eu não tenho o estatuo de António Capucho mas não acho que fique atrás, em capacidade, do que apresenta o candidato que o PSD avançou. Ele pode ter mérito na gestão do aparelho partidário em Cascais, mas oferece muito pouco no que respeita à gestão."
E depois disto, até já diz: "Candidato-me porque acho que alguém tem de o fazer".