A eurodeputada Roberta Metsola foi eleita Presidente do Parlamento Europeu (PE), esta terça-feira, em Estrasburgo, com maioria absoluta à primeira volta. A maltesa é a mais nova de sempre no cargo e comandará os destinos de uma das mais importantes instituições europeias durante dois anos e meio.
Apesar das suas posições anti-interrupção voluntária da gravidez e de se ter abstido recentemente numa votação europeia que pedia a criminalização da violência contra as mulheres, Roberta Metsola é um peso-pesado do Partido Popular Europeu (PEE), a direita europeia, que a aplaude.
A advogada, que desde cedo ingressou nas lides europeias, tendo trabalhado como adida na Representação Permanente de Malta junto da União Europeia (UE) desde 2004 e até se tornar eurodeputada em 2013, assume esta terça-feira o cargo graças a um acordo que remonta a 2019.
Há dois anos e meio, os grupos do PPE, da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D) e do Renovar a Europa (RE) concordaram em eleger o socialista David Sassoli como líder do PE com a condição de que na segunda metade do mandato, que começa em janeiro de 2022, um eurodeputado do PPE assumisse o posto. Foi, aliás, esse pacto que permitiu colocar a Democrata-Cristã Ursula von der Leyen na frente da Comissão Europeia e Charles Michel, do RE, nos destinos do Conselho Europeu.
"A segunda metade desta legislatura será crucial para a Europa e vou trabalhar arduamente para continuar a construir pontes nesta casa, à medida que trabalhamos em conjunto para fazer avançar importantes dossiers legislativos e aproximar a tomada de decisões das pessoas em cada Estado-membro", declarou Metsola, em novembro, quando foi anunciada como a candidata do PPE à presidência.
Roberta Metsola, com 43 anos, é oriunda do Estado-membro mais pequeno da UE e que nunca foi o país de origem de um presidente de uma instituição comunitária. "Roberta Metsola é uma deputada muito respeitada, extremamente dedicada e competente deste Parlamento, que tem demonstrado a sua liderança em muitas ocasiões desde que entrou para o Parlamento Europeu em 2013", descreve o líder do grupo do PPE no PE, Manfred Weber.
"A sua sabedoria, experiência como coordenadora do grupo e vice-presidente do Parlamento, e a sua capacidade de reunir eurodeputados de diferentes partidos e países será uma mais-valia para a nossa instituição, numa altura em que tal é mais necessário do que nunca. Ela será o rosto de um Parlamento forte, moderno e mais visível, que nos fará sentir orgulhosos. E, sim, também pensamos que já é tempo de o próximo presidente do Parlamento Europeu ser uma mulher", acrescenta.
Mas quem é Roberta Metsola?
Nascida Roberta Tedesco Triccas em 1979, esta maltesa de 44 anos é casada com o finlandês Ukko Metsola, com quem tem quatro filhos. Conheceu-o numa manifestação contra o ditador bielorrusso Aleksander Lukashenko, em Helsínquia, Finlândia.
A sua trajetória, quer académica, quer profissional, é profundamente europeísta. Metsola é uma advogada especializada em legislação europeia e foi assessora jurídica de Catherine Ashton, a antiga chefe da Diplomacia europeia, entre 2012 e 2013. Foi, nesse último ano, eleita pela primeira vez - e à terceira tentativa - eurodeputada pelo Partido Nacionalista do seu país, inscrito no PPE. Entre 2003 e 2004, estudou no Colégio da Europa, já depois de ter sido uma das primeiras estudantes maltesas a fazer Erasmus, em Rennes, França.
Enquanto estudante, Metsola foi sempre um membro político ativo. Fez parte da associação de estudantes democratas-cristãos malteses (Studenti Demokristjani Maltin), do Conselho Nacional da Juventude (KNZ) e do Movimento da Juventude do Partido Nacionalista (MŻPN), antes de ser eleita Secretária Geral dos Estudantes Democratas Europeus (EDS), o ramo estudantil do PPE, bem como a lugares no Fórum Europeu da Juventude (JJF).
Em Malta, Metsola foi uma peça importante no xadrez da adesão do país à UE, sobretudo entre os jovens. O "não" reuniu 45% dos votos e foi graças à mobilização de jovens como Metsola que se assegurou que o futuro daquela nação no mar Mediterrâneo passava pela UE.
O perfil político de Roberta Metsola está longe do seu antecessor, David Sassoli, um jornalista italiano marcadamente progressista. A eurodeputada pertence à ala menos conservadora do PPE pela sua abertura ao diálogo sobre as políticas de imigração e a sua defesa pública da igualdade das mulheres e dos direitos das pessoas LGTBIQ, mas também se opõe abertamente ao direito ao aborto o que a coloca, ao mesmo tempo, próxima da alta mais conservadora daquele grupo parlamentar.
A interrupção voluntária da gravidez é, de resto, ilegal no seu país de nascimento. A pequena nação mediterrânea acrescentou uma cláusula ao seu tratado de entrada ao clube comunitário, em 2004, afirmando que nenhuma legislação europeia a favor da interrupção da gravidez entraria em vigor no seu território.
Já como eurodeputada, Metsola votou contra o aborto em todas as votações no Parlamento Europeu. A sua posição em relação à violência sexista também levanta dúvidas e preocupações à esquerda devido à sua abstenção no Parlamento Europeu quando se trata de classificar a violência contra as mulheres como crime em toda a União Europeia. No entanto, neste campo, 2022 será um ano de confrontações para Metsola. A legislação contra a violência é um dos principais desafios do bloco europeu e uma das prioridades para a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen.
O jornalista Nuno de Noronha está em Estrasburgo a acompanhar a sessão plenária.