A eurodeputada maltesa Roberta Metsola, do Partido Popular Europeu (PPE), foi eleita Presidente do Parlamento Europeu (PE), esta terça-feira, em Estrasburgo, com maioria absoluta à primeira volta - 458 votos a favor -, sucedendo ao socialista italiano David Maria Sassoli, que morreu na semana passada.
A sueca Alice Kuhnke (Verdes/ALE), que também concorria ao posto, ficou em segundo lugar com 101 votos e a espanhola Sira Rego (Grupo da Esquerda) não foi além dos 57 votos. Dos 705 eurodeputados, votaram 690, sendo que 74 votos foram em branco ou nulos. A maioria absoluta exigia 309 votos.
"A Europa está de volta, a Europa é o futuro", afirmou Metsola no seu discurso de tomada de posse no qual começou por dizer que se sentia "honrada" com a nova missão. "Quero que as pessoas readquiram um sentido de crença e entusiasmo pelo nosso projeto. (...) Acredito que é possível tornar o nosso espaço mais seguro, mais justo e mais igualitário", referiu na sua intervenção.
"Devemos lutar contra a narrativa anti-UE que aumentou de forma fácil e rápida. A desinformação amplificada pela pandemia alimenta o cinismo e as soluções baratas de nacionalismo, autoritarismo, protecionismo e isolacionismo", alertou. "A Europa é precisamente o oposto. É sobre todos nós, apoiando-nos e aproximando as pessoas", referiu. "Nunca nos manteremos verdadeiramente unidos enquanto o Chipre estiver dividido", disse ainda, o que mereceu aplausos do hemiciclo.
Para os que querem "destruir a Europa", Metsola deixou o aviso: "Esta casa mantém-se contra vocês. A todos aqueles que tentam combater a democracia, a lei, a liberdade de pensamento, os direitos fundamentais, que vêm as mulheres como um alvo e negam os direitos dos cidadãos LGBTIQ, saibam que esta casa nunca o aceitarão", sublinhou.
"Deixem-me dizer às famílias de Daphne Caruana Galizia e Ján Kuciak, jornalistas mortos por fazerem o seu trabalho, que a vossa luta por verdade e justiça é a nossa luta", recordou ainda, noutro momento que mereceu a ovação da sala.
No seu discurso, Metsola falou ainda da necessidade de lutar contra as alterações climáticas. "Não é mais uma problema para a próxima geração. A questão já não é 'se', mas 'quando'", advertiu. "Esta é uma oportunidade para a Europa tomar a dianteira para se reinventar, garantido crescimento, sustentabilidade e prosperidade", considerou.
É a mais nova presidente
No dia em que faz 43 anos, a advogada e eurodeputada antiaborto fez história ao tornar-se a mais nova de sempre no cargo. É ainda a terceira mulher a chefiar o PE, depois de Simone Veil - cuja principal conquista como política foi a promulgação da lei que despenalizou o aborto em França em 1974 - e Nicole Fontaine.
Apesar das suas posições anti-interrupção voluntária da gravidez e de se ter abstido recentemente numa votação europeia que pedia a criminalização da violência contra as mulheres, Roberta Metsola é um peso-pesado do Partido Popular Europeu (PEE), a direita europeia, que a aplaude.
A advogada, que desde cedo ingressou nas lides europeias, tendo trabalhado como adida na Representação Permanente de Malta junto da União Europeia desde 2004 e até se tornar eurodeputada em 2013, assume esta terça-feira o cargo graças a um acordo que remonta a 2019.
Há dois anos e meio, os grupos do PPE, da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D) e do Renovar a Europa (RE) concordaram em eleger o socialista David Sassoli como líder do PE com a condição de que na segunda metade do mandato, que começa em janeiro de 2022, um eurodeputado do PPE assumisse o posto. Foi, aliás, esse pacto que permitiu colocar a Democrata-Cristã Ursula von der Leyen na frente da Comissão Europeia e Charles Michel, do RE, nos destinos do Conselho Europeu.
"A segunda metade desta legislatura será crucial para a Europa e vou trabalhar arduamente para continuar a construir pontes nesta casa, à medida que trabalhamos em conjunto para fazer avançar importantes dossiers legislativos e aproximar a tomada de decisões das pessoas em cada Estado-membro", declarou Metsola, em novembro, quando foi anunciada como a candidata do PPE à presidência.
Roberta Metsola é oriunda do Estado-membro mais pequeno da UE e que nunca foi o país de origem de um presidente de uma instituição comunitária. "Roberta Metsola é uma deputada muito respeitada, extremamente dedicada e competente, que tem demonstrado a sua liderança em muitas ocasiões desde que entrou para o Parlamento Europeu em 2013", descreveu o líder do grupo do PPE no Parlamento Europeu, Manfred Weber.
"A sua sabedoria, experiência como coordenadora do grupo e vice-presidente do Parlamento, e a sua capacidade de reunir eurodeputados de diferentes partidos e países será uma mais-valia para a nossa instituição, numa altura em que tal é mais necessário do que nunca. Ela será o rosto de um Parlamento forte, moderno e mais visível, que nos fará sentir orgulhosos. E, sim, também pensamos que já é tempo de o próximo presidente do Parlamento Europeu ser uma mulher", comentou.
Como funcionou esta eleição?
A eleição para a presidência do PE processou-se por escrutínio secreto e aconteceu, desta vez, por via remota por causa do aumento de casos de COVID-19 na Europa face à expansão da variante ómicron.
Para ser eleito, um candidato tem de obter a maioria absoluta dos votos expressos válidos, ou seja, 50% mais um.
A votação já estava marcada nas agendas do Parlamento Europeu há meses, quando na semana passada a Europa acordou com a notícia da morte do presidente em exercício, David Sassoli.
O dirigente socialista italiano, que assumiu o cargo no verão de 2019, esteva em coma em Itália durante vários dias devido a uma disfunção do sistema imunitário, acabando por morrer aos 65 anos, na passada terça-feira, no hospital onde estava internado.
Quem estava a votação e quem desistiu?
Para além de Roberta Metsola, Alice Kuhnke (Verdes/ALE, eurodeputada pela Suécia) e Sira Rego (Grupo da Esquerda, por Espanha) eram as outras candidatas à presidência da assembleia europeia na segunda metade da atual legislatura.
Kosma Zlotowski (ECR, eurodeputado pela Polónia), cujo nome também tinha sido anunciado na segunda-feira pelo vice-presidente do PE, o eurodeputado Pedro Silva Pereira, retirou a sua candidatura esta manhã, informou o português que preside esta terça-feira à assembleia.
Os candidatos à presidência podem ser propostos por um grupo político ou por um vigésimo dos membros que compõem o Parlamento (o chamado “limiar baixo”, segundo o Regimento do Parlamento Europeu), ou seja, pelo menos 36 dos 705 eurodeputados.
O jornalista Nuno de Noronha está em Estrasburgo a acompanhar a sessão plenária.