"A senhora provedora preferiu tornar-se provedora de uma minoria de pessoas que não querem ver touradas na RTP, perante isto tem que sair." A reação é do secretário-geral da PróToiro, que acusa a RTP de querer "celebrar os 50 anos do 25 de Abril com um exercício de censura, digno do antigo regime, atentando contra o direito à cultura constitucionalmente protegido, no canal pago por todos nós".
Em causa estão as declarações de Ana Sousa Dias, que ontem, no Parlamento, recusando entrar na discussão sobre a transmissão de corridas de toiros mas adiantando que "as linhas da estratégia que o Conselho Geral Independente estabeleceu para a RTP falam no bem-estar animal" e que, "a partir daí, a situação muda drasticamente", pelo que o canal público, defende, não pode contrariar aquelas regras.
Em resposta aos deputados, na comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, a provedora admitiu ter recebido mais de 6 mil mensagens de telespectadores, metade delas sobre touradas. Contra ou a favor. Entende, ainda assim, que "a decisão de transmitir ou não touradas na RTP não depende da provedora".
A posição assumida por Sousa Dias foi recebida por Hélder Milheiro como representativa de uma "clara e abusiva falta de independência e imparcialidade face ao tema da emissão televisionada de espetáculos culturais tauromáquicos pelos canais públicos de televisão e ostensivamente discriminatória face a uma atividade cultural, consagrada na lei portuguesa".
Entendendo que a provedora assume uma posição parcial, o responsável da PróToiro entende que não tem condições para se manter no cargo, pedindo mesmo uma audiência urgente ao ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, que tem a tutela da comunicação social.
"Tal audiência prende-se com a premência a que se obriga este governo no sentido de esclarecer publicamente os portugueses sobre a sua posição quanto à censura da transmissão televisiva de espetáculos culturais tauromáquicos na RTP e respetiva continuidade de funções da provedora. De igual modo, foram também pedidas audiências aos Grupos Parlamentares do PSD, do CDS, do PS, do Chega, da IL e do PCP."
Hélder Milheiro vinca que este tema já foi trazido a debate em 2021, tendo-se então várias personalidades insurgido "contra esta perseguição através da assinatura de um manifesto público". Na lista estavam ex-ministros da Cultura como João Soares, Gabriela Canavilhas e Luís Castro Mendes, ex-secretários de Estado da Cultura como Elísio Summaville e Francisco José Viegas, bem como outras 124 personalidades, desde o fundador do PS Manuel Alegre, ao presidente socialista, Carlos César, passando por António Lobo Xavier, o jornalista Daniel Oliveira, os músicos Toy e José Cid e até a escritora Alice Vieira e o artista plástico Pedro Cabrita Reis.