
O presidente da Intervenção e Resgate Animal (IRA) afirmou que à chegada ao canil de Foz Côa se deparou com inúmeros cães feridos, outros cheios de parasitas e com sinais de elevada magreza, numa operação de resgate "inédita".
"Havia animais em mau estado que devido à sua debilitação física tiveram de ser entubados e tratados a soro para serem transportados para os hospitais veterinários. Para além de inúmeros animais feridos devido a lutas entre si e com sinais de elevada magreza e cheio de carraças, constatámos que o canil municipal de Vila Nova Foz Côa, não tinha condições para alojar tantos animais", explicou à agência Lusa, Tomás Pires.
O dirigente do núcleo de Intervenção e Resgate Animal disse que não lhe foi dada nenhuma explicação sobre esta situação, "até porque não houve diálogo entre a autarquia ou a veterinária responsável pelo canil municipal".
"Aquilo de que nós temos conhecimento é que o Ministério Público recebeu uma queixa por parte de uma munícipe e quando verificou os elementos recolhidos pela equipa de fiscalização do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas ordenou, de imediato, o encerramento deste espaço com mandados de apreensão de todos os animais, porque estavam todos mal tratados", vincou Tomás P ires.
Segundo o presidente do IRA, grande parte dos animais serão transportados para centros de atendimento médico e veterinário.
Os outros animais que estiverem em melhores condições corporais vão ser instalados em associações como a MIDAS, o santuário animal Vida Boa, nas instalações do IRA em Lisboa e Porto e em famílias acolhimento que responderam ao apelo para tomar conta dos cães.
70 animais resgatados em operação da GNR
O IRA classificou esta operação de resgate de 70 cães do canil municipal em Vila Nova de Foz Côa como "inédita", justificando que um organismo público não respeitou as leis do próprio Estado, "quando é o Estado que faz as leis".
Setenta cães foram, na última sexta-feira, resgatados pela GNR do canil municipal de Vila Nova de Foz Coa, na sequência de uma investigação sobre maus-tratos a animais de companhia e foi desenvolvida pelo Núcleo de Investigação de Crimes e Contraordenações Ambientais (NICCOA) da GNR, em colaboração com o ICNF.
Segundo a GNR, na sequência desta operação, "foi determinado o resgate e o encaminhamento dos animais para associações de acolhimento, bem como o encerramento do canil, por falta de licenciamento, através do ICNF". Os factos foram remetidos para o Tribunal Judicial de Vila Nova de Foz Côa, no distrito da Guarda.
Autarca diz que não sabia se canil estava ilegal
Contactado pela Lusa, o presidente da Câmara de Vila Nova de Foz Côa, João Paulo Sousa, disse não fazer ideia se o canil estava ilegal ou não. João Paulo Sousa acrescentou que o canil em causa "é municipal e que as regras de funcionamento que já vinham de há imenso tempo eram completamente diferentes, e agora com as novas edificações evidentemente que era difícil legalizar o canil".
Admitiu que o município há já muitos anos tem conhecimento da existência de uma sobrelotação do canil e que, em 2022, foi feito um projeto para alteração do canil municipal, sendo lançado em 2024 um concurso para as obras mas que acabou por ficar deserto.
João Paulo Sousa acrescentou que a gestão do canil municipal é feita pela Junta de Freguesia de Foz Côa, através de um contrato interadministrativo, no âmbito da delegação de competências.
O autarca frisou que não tem conhecimento oficial de maus-tratos aos animais, mas referiu que poderá haver a existência pontual devido à sobrelotação e um ou outro animal que esteja mais debilitado.
"A Câmara, através do protocolo com a junta de freguesia, paga a alimentação dos animais e rejeitamos maus-tratos e abandono", vincou João Paulo Sousa.