
Carlos Mendes Gonçalves, administrador da Casa Mendes Gonçalves, a empresa familiar detentora das marcas Paladin, Dona Pureza e Peninsular, que a partir da Golegã produz de molhos e vinagres, não chegou a concluir o ensino secundário. Abandonou a escola aos 15 anos para criar com o pai a empresa que hoje emprega mais de 400 trabalhadores e exporta para vários mercados. Não se orgulha de ter deixado os estudos pelo caminho: “não havia tempo. A empresa foi constituída eu tinha 15 anos, o meu pai 60 e um cancro”. E desvaloriza o facto de ter sido sucesso sem formação, incentivando os que o rodeiam a procurar sempre o conhecimento. "A educação é absolutamente crucial, sem ela não há empresas, não há sociedade, não há nada", aponta.
Começou a empresa em 1983, com seis funcionários, “um crédito de 30 mil contos às costas” e uma receita de vinagre de figo de Torres Novas que “para juntar a toda a dificuldade de uma empresa a começar com juros de 26%, foi um desastre total”, relembra. Na altura, com pouca margem para inovação, mas um enorme foco em fazer diferente, Carlos reinventou-se e apostou nos molhos, de que “sabia menos que zero” e todos os ensaios que fazia estavam errados". Mas chegou aqui. A Casa Mendes Gonçalves emprega atualmente mais de 400 profissionais, é um player global que exporta para vários mercados, precisamente molhos, e que faz questão de retribuir à comunidade local o tanto que dela recebeu. O seu fundador não tem dúvidas: “a nossa empresa é uma máquina de errar, o que mais fazemos é falhar. Errar e aprender foi i que nos trouxe até aqui”.
Carlos Mendes Gonçalves define-se como “um rapaz simples do campo”, ainda que quem tenha acompanhado o seu percurso e crescimento como líder facilmente o defina como um visionário que, com dedicação e muita persistência, procurou fazer a diferença na região. Trata os trabalhadores como colegas e considera que o melhor que pode fazer para ser considerado líder, "é preparar os outros para serem líderes". Mais, vinca, "tem de ser natural eu dizer ao meu chefe que quero estar no seu lugar e fazer o caminho para isso. É a coisa mais natural do mundo".
No LinkedIn, Carlos apresenta-se como um CEO de sonhos e instabilidade, traduzindo o desafio diário de quem gere projetos empresariais no momento atual. O seu maior hóbi é ter ideias em catadupa e procurar o que não existe, mas fazia sentido que existisse. E é assim que se quer manter até ao fim dos seus dias. "Planeio estar na empresa até o fim da minha vida, mas sem atrapalhar e sem liderar", sublinha o gestor que tem a sucessão bem planeada.
O fundador da Casa Mendes Gonçalves é pai de quatro filhas, mas explica que nunca viu a empresa como sendo “herdada ou gerida por alguém que tenha o apelido de Mendes Gonçalves”. Criou uma fundação à qual doou as suas ações, garantindo assim a continuidade da empresa no futuro. "Tenho uma obrigação com a terra, com a região, com aquelas pessoas. Uma obrigação moral, com a possibilidade que tivemos de construir o que construímos", nota acrescentando que é sua missão continuar a fazer crescer o negócio, dar-lhe escala e mundo e retribuir à comunidade em desenvolvimento e investimento. “Não acredito numa empresa de sucesso numa sociedade que não o tenha”, aponta.
O CEO é o limite é o podcast de liderança e carreira do Expresso. Todas as semanas a jornalista Cátia Mateus mostra-lhe quem são, como começaram e o que fizeram para chegar ao topo os gestores portugueses que marcaram o passado, os que dirigem a atualidade e os que prometem moldar o futuro. Histórias inspiradoras, contadas na primeira pessoa, por quem ousa fazer acontecer. Ouça outros episódios: