O líder espiritual tibetano Dalai Lama reafirmou hoje a continuidade da sua instituição, numa das declarações mais claras até à data sobre a intenção de garantir um sucessor, a seis dias do seu 90.º aniversário.

Perante centenas de fiéis e monges reunidos no templo principal de McLeod Ganj, no norte da Índia, o líder espiritual tibetano e Prémio Nobel da Paz comprometeu-se a "servir a humanidade" não apenas pessoalmente, mas através da entidade que representa, numa referência velada à continuidade da linhagem espiritual.

A declaração do líder tibetano ocorreu durante um Tenshug, uma elaborada cerimónia de oferenda de longa vida organizada este ano pela comunidade da província de Dhomey. Usando o tradicional chapéu amarelo cerimonial de Pandita, o Dalai Lama recebeu, durante cerca de duas horas, oferendas de uma longa procissão de devotos que rezavam pela sua longevidade.

Com 89 anos, o Dalai Lama vive exilado na Índia desde 1959, ano em que fugiu do Tibete após uma revolta falhada contra a ocupação chinesa. Desde então, lidera a administração tibetana no exílio, a partir da cidade indiana de Dharamshala, defendendo a autonomia do Tibete e a preservação da sua cultura.

A mensagem de hoje surge após a publicação do seu mais recente livro, Voice for the Voiceless, no qual o líder espiritual afirma que a sua reencarnação ocorrerá fora do território chinês. Esta declaração antecede uma reunião -chave de altos lamas, marcada para esta semana em Dharamshala, precisamente para discutir o futuro da instituição.

A posição do Dalai Lama colide com os planos de Pequim, que considera o líder tibetano um separatista. O Governo chinês procura controlar a sucessão e, para tal, deteve em 1995 o Panchen Lama, figura central no reconhecimento da reencarnação, com o objetivo de nomear um sucessor alinhado com os interesses do Partido Comunista Chinês.

A cerimónia de hoje marca o início de uma semana decisiva para o futuro do Tibete, que culminará em 06 de julho com as celebrações oficiais do 90º aniversário do Dalai Lama, um evento que o mundo acompanha com expectativa quanto à definição de uma eventual sucessão.