Em entrevista à Lusa, Titta Maja-Luotto, em funções em Portugal desde setembro passado, lamentou a situação que vive a embaixada, que atribuiu a mudanças que tem vindo a introduzir, nomeadamente quanto às funções do pessoal.

Os sete funcionários da embaixada e da residência da embaixadora em Lisboa, incluindo três portugueses, apresentaram uma queixa ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) finlandês em fevereiro, embora o alegado assédio tenha sido inicialmente comunicado às autoridades desde outubro.

Os trabalhadores referem situações de assédio, intimidação, insultos, discriminação tendo em conta a idade, comportamento racista e abuso emocional e afirmam viver uma "situação desgastante", com impacto na saúde física e mental.

O diferendo, argumentou a embaixadora, mostra "a importância da comunicação no local de trabalho", reconhecendo que "a linha da comunicação nem sempre foi tão aberta quanto deveria".

Maja-Luotto reconheceu que a equipa está "sob um forte stress mental", o que disse lamentar, desde que procurou alterar funções do pessoal, de forma a ter "mais tempo de trabalho dedicado a temas substantivos em vez de questões administrativas para melhorar o reporte ao ministério".

"Alguns destes processos não foram satisfatórios para as pessoas", comentou, admitindo que deveria ter "conduzido estas alterações de forma mais lenta".

Por outro lado, sublinhou que há normas do MNE finlandês que têm de ser adotadas em todas as embaixadas, bem como as que dizem respeito à legislação portuguesa.

"Detetei algumas anomalias e pedi uma investigação interna, incluindo análise forense", disse, referindo que o prazo para este procedimento é confidencial.

"Precisamos de respostas para perceber se todas as práticas são seguidas", explicou.

A embaixadora disse acreditar que os funcionários "não estão a fazer nada de errado" e elogiou a equipa: "A embaixada tem grandes profissionais, que são dedicados e estão a fazer um ótimo trabalho".

"Não temos conhecimento sobre a lei portuguesa e não entendem que há normas a que devemos obedecer", afirmou, justificando assim a necessidade de ter "ajuda externa".

Um dos episódios relatados pelos funcionários numa audiência com responsáveis do MNE finlandês, no âmbito da queixa, diz respeito a um alegado comentário depreciativo sobre pessoas africanas feito pela diplomata.

Confrontada com esta alegação, a embaixadora negou veementemente, afirmando tratar-se de "um mal-entendido".

"Já discuti várias vezes o facto de que vimos de origens étnicas diversas e isso significa que temos de nos compreender uns aos outros", referiu.

A diplomata defendeu ainda que "existe um nível mínimo básico de competências que todos os que trabalham nas embaixadas da União Europeia devem ter" e afirmou ter oferecido apoio, nomeadamente através de formação, para que o pessoal possa "cumprir esses requisitos".

"Falei sobre a igualdade de tratamento, de uma forma que tornasse o local de trabalho mais igualitário e mais etnicamente diversificado. E nunca, jamais, descartei as qualidades de ninguém, mas incentivei-os a adquirir as qualidades que são necessárias em Portugal em 2025", referiu.

"Lamento muito que esse tipo de atividade tenha sido interpretado como racista ou etnicamente discriminatório", comentou, salientando que tem pautado a carreira diplomática "evitando a discriminação racial e qualquer tipo de discriminação" e que é "conhecida como uma feminista no Ministério dos Negócios Estrangeiros".

O processo de averiguação já foi concluído pelo MNE finlandês, sendo o resultado confidencial, disse na quinta-feira à Lusa fonte oficial do Governo de Helsínquia, que indicou que "a decisão sobre as possíveis consequências ao abrigo da lei da função pública ainda está a ser analisada e nenhuma decisão foi tomada".

A embaixadora disse aguardar calmamente o desfecho do processo, enquanto dois dos queixosos admitiram à Lusa que o resultado foi "altamente dececionante".

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