
Num relatório compilado a partir de entrevistas a 35 refugiados na Cidade de Gaza, a Amnistia descreve um "quadro sombrio de uma população em risco de sobrevivência" num território privado de alimentos, medicamentos e combustível.
"Israel deve pôr fim imediatamente ao cerco devastador à Faixa de Gaza ocupada, que constitui um ato de genocídio, uma forma flagrante de punição coletiva ilegal e o crime de guerra de matar civis à fome como método de guerra", afirmou a ONG.
A diretora de Investigação e Políticas da Amnistia, Erika Guevara-Rosas, disse que "Israel transformou Gaza de forma implacável e implacável num inferno de morte e destruição".
A ONG explica que as zonas proibidas controladas por Israel cobrem quase 70% do enclave, "forçando as pessoas a abandonar o que resta das suas escassas fontes de subsistência e o acesso a meios de subsistência para agricultores e pescadores".
"As consequências são danos irreversíveis para a população palestiniana. Os alimentos básicos, como o peixe e a carne, tornaram-se proibitivamente caros, levando inúmeras famílias à fome", afirma.
"A maioria dos palestinianos em Gaza só tem agora acesso a cozinhas comunitárias sobrelotadas, onde os deslocados enfrentam longas esperas por sustento mínimo, muitas vezes apenas uma refeição por dia", lê-se no relatório.
A escassez de alimentos está a ser explorada, acrescenta, "por indivíduos que acumulam ou saqueiam mantimentos e os vendem a preços exorbitantes", explicando que, "no meio de uma grave crise de liquidez, as taxas para levantar dinheiro podem chegar a 30%".
A Amnistia denuncia que, durante o conflito, e também durante a trégua de quase dois meses quebrada por Israel a 18 de março, os dirigentes do grupo islamita Hamas "não tomaram medidas significativas para impedir tal exploração e lucro".
"A aparente indiferença para com a população civil levou centenas de manifestantes em Gaza, especialmente em Beit Lahia [norte], a saírem às ruas nas últimas semanas exigindo a queda do Hamas", recorda.
Outro problema é a escassez de água, um problema "endémico" em Gaza que agora "se tornou crítico", ao ponto de haver pessoas a beber água do mar, disse a ONG.
"Os danos nas infraestruturas e a escassez de combustível limitaram severamente o acesso a água potável. Os residentes de Beit Lahia relataram ter ficado sem água para uso doméstico durante cinco dias consecutivos", descreve a Amnistia.
A falta de gás de cozinha e a escassez e o elevado preço da lenha obrigam as pessoas a queimar materiais perigosos, como resíduos e nylon, para cozinhar e aquecer-se, causando doenças respiratórias, especialmente entre as mulheres, refere o relatório.
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