
O Presidente francês pediu hoje o Reino Unido, num discurso no Parlamento britânico, a aliar-se à Europa para evitar uma "dependência excessiva" da China e dos Estados Unidos.
Embora tenha vincado que não coloca "a China e os EUA em pé de igualdade", Emmanuel Macron disse ser necessário "ser realista" e reduzir o risco de uma "dupla dependência".
"Se os europeus, se o Reino Unido e França não trabalharem em conjunto para construir uma cadeia de abastecimento sólida de forma a reduzir as nossas dependências em áreas críticas (...), se continuarmos a depender da China e dos Estados Unidos, temos uma visão clara do nosso futuro e do futuro dos nossos filhos", alertou Macron.
O excesso de capacidade e outros subsídios são "ameaças claras a um comércio justo e estão a desestabilizar muitas cadeias de valor e a criar novas dependências", situação que Macron atribuiu à China.
Do lado dos EUA, "a guerra comercial é claramente uma decisão explícita destinada a não respeitar a Organização Mundial do Comércio", acrescentou.
No discurso, Macron exortou também o Reino Unido a reconhecer a Palestina, defendendo um "cessar-fogo em Gaza sem quaisquer condições" por considerar que uma "guerra sem fim e sem um objetivo estratégico representa uma enorme ameaça para a região e para a segurança coletiva".
"A solução dos dois Estados e o reconhecimento do Estado da Palestina é, penso eu, a única forma de construir paz e estabilidade na região inteira" do Médio Oriente, sublinhou.
O Presidente francês defendeu que, enquanto membros do Conselho de Segurança da ONU, Reino Unido e França devem continuar "profundamente empenhados no multilateralismo".
Sobre a Ucrânia, reiterou o apoio, independentemente da política dos Estados Unidos, salientando que, "quaisquer que sejam as decisões noutros locais, lutaremos até ao último minuto para conseguir o cessar-fogo, para iniciar as negociações com vista à construção de uma paz sólida e sustentável".
A nível bilateral, prometeu "cooperação e resultados tangíveis" para combater a imigração ilegal no canal da Mancha, um tema que admitiu ser "um fardo" para Reino Unido e França.
No entanto, Macron sublinhou que um terço das pessoas que entram no Espaço Schengen tentam atravessar o canal da Mancha, defendendo "uma ação a nível europeu" para alcançar uma solução eficaz.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, ministros, deputados e representantes de vários partidos, assistiram ao discurso do Presidente francês, que chegou hoje ao Reino Unido para uma visita de Estado de três dias.
Macron e a mulher, Brigitte, foram recebidos esta manhã pelo rei Carlos III e a mulher, Camilla, no castelo de Windsor, onde terá lugar esta noite um banquete de Estado com cerca de 150 convidados.
Nos dois próximos dias, a visita deverá assumir ter um caráter mais político.
Macron vai reunir-se com Starmer, na quarta-feira e na quinta-feira, quando terá lugar uma cimeira franco-britânica, com ministros dos dois países.
Os dois governantes vão ainda copresidir a uma reunião por videoconferência, também na quinta-feira, a partir da base de Northwood, perto de Londres, para reforçar as capacidades de defesa da Ucrânia face à Rússia.