
Novos ataques israelitas na Faixa de Gaza mataram pelo menos 140 palestinianos nas últimas 24 horas e mais de 300 desde a última quinta-feira, segundo a Reuters, o que faz deste período um dos mais mortíferos da guerra desde o fracasso das negociações de cessar-fogo em março.
A escalada na ofensiva israelita acontece depois de Israel ter anunciado, na sexta-feira, o início da expansão da ação terrestre no enclave e num momento em que existe um bloqueio total de Israel à ajuda humanitária no território palestiniano.
Em reação a esta escalada de ataques, António Costa, presidente do Conselho Europeu, escreveu na rede social X estar “chocado” com as notícias que lhe chegam de Gaza.
“Civis a morrer de fome, hospitais atingidos outra vez por ataques. A violência tem de acabar! O governo israelita tem de suspender o bloqueio já e garantir o acesso seguro, rápido e desimpedido à ajuda humanitária”, escreveu o ex-primeiro ministro português, apelidando o que se passa em Gaza de “tragédia humanitária”.
“Há um povo inteiro a ser submetido a uma força militar esmagadora e desproporcional. O direito internacional está a ser sistematicamente violado. Um cessar-fogo sustentado e a libertação imediata e incondicional de todos os reféns são mais urgentes do que nunca”, escreveu ainda António Costa, um dia depois de também o chefe de direitos humanos da ONU se ter pronunciado sobre a escalada de ataques no enclave.
Na sexta-feira, Volker Türk afirmou que a escalada de bombardeamentos tinha como objetivo deslocar palestinianos e que era equivalente a uma limpeza étnica.
“Esta última enxurrada de bombas... e a negação de assistência humanitária fazem parecer haver uma pressão por uma mudança demográfica permanente em Gaza, que desafia o direito internacional e equivale a uma limpeza étnica”, disse o responsável da ONU.
Cimeira árabe decide financiamento para reconstruir Gaza
A opinião de Türk foi ecoada este sábado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, que, marcando presença no 34.º fórum da Liga Árabe, reunida em Bagdade, pediu um cessar-fogo permanente em Gaza, apelou à libertação dos reféns israelitas em Gaza e ao fluxo de ajuda para o território.
A cimeira de Bagdade contou com a presença de líderes árabes, incluindo o Emir do Catar, Xeque Tamim bin Hamad Al Thani, e o Presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sissi.
Entre os convidados encontravam-se o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, e o secretário-geral da ONU, António Guterres, que também afirmou que a ONU rejeita qualquer “deslocação forçada” de palestinianos.
Na sua declaração final, a cimeira árabe reclamou maior pressão internacional para “parar o derramamento de sangue” no território palestiniano e apelou ao financiamento da reconstrução da Faixa de Gaza, em alternativa à proposta do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que afirmou querer assumir o controlo do território.
A iniciativa prevê a criação de um fundo no valor de 53 mil milhões de dólares (cerca de 47,5 mil milhões de euros, ao câmbio atual) em cinco anos.
Alemanha preocupada com nova ofensiva
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha manifestou também neste sábado uma “profunda preocupação” com o lançamento desta nova ofensiva militar.
“O lançamento de uma nova ofensiva terrestre pelo exército israelita em Gaza é motivo de profunda preocupação, tanto para os objetivos estratégicos de Israel como para a situação humanitária em Gaza”, afirmou o comunicado do governo alemão, citado pela agência de notícias francesa AFP.
O governo alemão reconhece “o direito de Israel a defender-se”, no quadro do direito internacional, mas diz que uma ofensiva militar em grande escala também “corre o risco” de “piorar a já catastrófica situação humanitária da população em Gaza e a situação dos restantes reféns”, ao mesmo tempo que reduz “as perspetivas de um cessar-fogo a longo prazo muito necessário”.
Todas as novas preocupações com a situação do enclave são exprimidas no mesmo dia em que um dirigente do movimento islamita palestiniano Hamas disse que uma nova ronda de negociações indiretas com Israel tinha começado em Doha “sem quaisquer condições prévias”.
“Esta ronda de negociações começou sem condições prévias de nenhuma das partes e as negociações estão abertas à discussão de todas as questões”, disse Taher al-Nounou, citado pela agência France-Presse (AFP).
As autoridades de saúde de Gaza, controladas pelo Hamas, elevaram este sábado para 53 mil o número de mortos resultante da ofensiva militar israelita contra o enclave, desde o seu início.