
"Com efeito imediato, em preparação para a expansão da análise das redes sociais e da verificação de antecedentes, as secções consulares não devem adicionar mais marcações para vistos de estudante ou de intercâmbio estudantil até que sejam emitidas novas diretrizes", afirma o secretário de Estado Marco Rubio numa diretiva citada pela agência Bloomberg.
A diretiva enviada a embaixadas e secções consulares é datada de hoje, segundo o site noticioso Politico.
A mesma fonte adianta que a ordem poderá atrasar significativamente o processamento dos vistos de estudante, prejudicando muitas universidades que dependem das receitas de matrículas e propinas de estudantes estrangeiros.
Em meados de abril, e no âmbito de uma ação repressiva contra os protestos pró-palestinianos nos campus universitários norte-americanos, o The New York Times noticiou que o executivo de Donald Trump tinha ordenado aos funcionários que analisassem as contas das redes sociais de alguns requerentes de vistos.
A administração tinha anteriormente imposto alguns requisitos de rastreio das redes sociais, mas estes destinavam-se em grande parte a estudantes que regressavam ao país e que podiam ter participado em protestos contra as ações de Israel em Gaza.
Sob acusação de apoio ao movimento palestiniano Hamas, considerado terrorista por Washington, ou de antissemitismo, vários estudantes foram detidos e submetidos a processos de deportação ou impedidos de regressar ao país, depois de serem cancelados os seus vistos.
O telegrama de Rubio não explica diretamente o que de futuro será verificado nos antecedentes ou publicações dos candidatos a visto, mas faz alusão a ordens executivas que visam impedir a entrada de terroristas e combater o antissemitismo.
Segundo o Politico, muitos funcionários do Departamento de Estado queixam-se, em privado, da falta de clareza de orientações anteriores sobre, por exemplo, examinar estudantes que possam ter participado em protestos em campus.
As universidades, sobretudo as de elite como Harvard, têm sido um alvo frequente do próprio Trump nalguns dos seus discursos, acusando-as de promover antissemitismo e ideologia de esquerda radical.
A Universidade de Harvard contestou judicialmente na semana passada a decisão do executivo Trump de a proibir de matricular estudantes estrangeiros, considerando-a uma vingança política.
Numa ação judicial interposta num tribunal federal de Boston, a universidade alega que a medida viola a Primeira Emenda da Constituição e terá um "efeito imediato e devastador para Harvard e para mais de 7.000 titulares de vistos".
"Com uma simples assinatura, o Governo tenta eliminar um quarto do corpo estudantil de Harvard - estudantes internacionais que contribuem significativamente para a universidade e para a sua missão", escreveu a instituição no processo.
Harvard informou que planeia apresentar uma providência cautelar para impedir o Departamento de Segurança Interna de aplicar as novas regras, que impedem a inscrição de estudantes estrangeiros naquela universidade e obriga os atuais alunos estrangeiros a pedir a transferência.
A administração republicana liderada por Trump justificou a decisão acusando Harvard de criar um ambiente inseguro no 'campus' ao permitir que "agitadores antiamericanos e pró-terroristas" ataquem estudantes judeus.
O Governo acusa ainda Harvard de se coordenar com o Partido Comunista Chinês, alegando que a universidade acolheu e treinou membros de um grupo paramilitar chinês.
O presidente de Harvard, Alan Garber, disse que a universidade fez mudanças nas suas políticas internas, no último ano e meio, que incluem medidas para combater o antissemitismo.
Garber acrescentou que Harvard não abdicaria dos seus "princípios fundamentais e legalmente protegidos".
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