"Tenho afirmado [...] que é preciso negociar, que é preciso sentar à mesa com a administração americana, que há um processo negocial a decorrer e que a Europa tem de olhar para aquilo que são os seus interesses, mas procurar chegar a um entendimento de forma a que não haja aplicação de tarifas ou que [...] seja o mais mitigada possível", declarou o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, em Bruxelas.

A afirmação, à chegada à reunião do Eurogrupo, surge no dia em que foi anunciado que os Estados Unidos e a China vão suspender a maioria dos direitos aduaneiros durante 90 dias.

"As tarifas prejudicam as economias e, sobretudo, prejudicam os consumidores daqueles mais baixos de rendimento e, portanto, quer a Europa, quer os outros blocos económicos estão a fazer o seu trabalho de se sentar com a administração americana e perceber o que é que pode ser obtido nesta questão negocial das tarifas", acrescentou Joaquim Miranda Sarmento.

A reação surge depois de os Estados Unidos anunciarem que reduziram em 30% as tarifas impostas à China por um período de 90 dias, enquanto Pequim reduzirá as taxas sobre os produtos norte-americanos de 125% para 10%, anúncio entretanto saudado pela Comissão Europeia.

"Congratulamo-nos com o facto de os Estados Unidos e a China terem anunciado que, pelo menos em certa medida, irão recuar a imposição de direitos aduaneiros durante 90 dias", disse o porta-voz do executivo comunitário para o Comércio, Olof Gill, também em Bruxelas.

Antes, na passada quinta-feira, a Comissão Europeia propôs uma lista de bens industriais e agrícolas dos Estados Unidos, num valor de 95 mil milhões de euros, para taxar caso as negociações com Washington não resultem, preparando ainda um litígio na Organização Mundial do Comércio.

Sobre esta questão, Joaquim Miranda Sarmento afirmou ainda: "A Comissão continua a fazer o seu trabalho e há aqui um tempo de negociação, onde naturalmente há avanços e recuos, como é normal nestes processos".

Este é um momento de tensões comerciais, após os anúncios de Donald Trump de imposição de taxas de 25% para o aço, o alumínio e os automóveis europeus e de 20% em tarifas recíprocas ao bloco comunitário, estas últimas, entretanto, suspensas por 90 dias.

A suspensão acalmou os mercados, que chegaram a registar graves perdas, e foi saudada e secundada pela UE, que suspendeu, durante o mesmo período e até meados de julho, as tarifas de 25% a produtos norte-americanos em resposta às aplicadas pelos Estados Unidos ao aço e alumínio europeus.

A Comissão Europeia, que detém a competência da política comercial da UE, tem optado pela prudência e essa cautela é apoiada por países como Portugal.

Bruxelas quer, nesta pausa de 90 dias, conseguir negociar com Washington, tendo já proposto tarifas zero para bens industriais nas trocas comerciais entre ambos os blocos.

Atualmente, 379 mil milhões de euros em exportações da UE para os Estados Unidos, o equivalente a 70% do total, estão sujeitos às novas tarifas (incluindo as suspensas temporariamente) desde que a nova administração dos Estados Unidos tomou posse.

Cálculos da Comissão Europeia dão conta de que os novos direitos aduaneiros norte-americanos podem implicar perdas de 0,8% a 1,4% no Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA até 2027, sendo esta percentagem de 0,2% do PIB no caso da UE.

No pior cenário, isto é, se os direitos aduaneiros forem permanentes ou se houver outras contramedidas, as consequências económicas serão mais negativas, de até 3,1% a 3,3% para os Estados Unidos e de 0,5% a 0,6% para a UE.

Em termos globais, o executivo comunitário estima uma perda de 1,2% no PIB mundial e uma queda de 7,7% no comércio mundial em três anos.

ANE // MSF

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