
Um grupo de investigadores europeus defende que as escolas não devem proibir a entrada dos telemóveis dos alunos nem os pré-adolescentes devem ser impedidos de aceder às redes sociais, e que a solução passa pelo diálogo intergeracional.
"Banir não é o melhor passo", afirma Teresa Castro, uma das investigadoras do projeto ASAP, que desde 2022 reúne instituições de cinco países europeus -- Itália, Croácia, República Checa, Eslovénia e Portugal -- que se dedicam a investigar a relação dos jovens com as plataformas digitais, a integração dos media digitais nas escolas e o impacto das redes sociais no comportamento dos mais novos.
"Quando os pais proíbem, eles criam uma rede social nos telemóveis dos amigos", exemplificou a especialista.
Os investigadores acreditam que em vez da repressão, deve haver um diálogo intergeracional que promova a confiança e leve a uma aprendizagem de ambos: Os mais novos podem aprender a usar as ferramentas em segurança e os pais e professores podem descobrir novas redes sociais ou fenómenos.
A proibição leva a "uso de forma não supervisionada"
Teresa Castro também discorda com as politicas que apontam para a proibição do telemóvel nas escolas, que começaram a ser implementadas de forma mais sistemática nas escolas portuguesa.
"É o caminho mais curto e a medida mais fácil. Não concordamos de todo com essa proibição. Só vai levar a um uso de forma não supervisionada e perde-se em inclusão", defende a investigadora, lamentando que se continue a olhar para "as crianças com incompetentes".
Consciente de que os pré-adolescentes são uma população muito ativa na internet, Teresa decidiu ir para o terreno e encontrou um grupo que se envolve "em ações arriscadas, mas não de risco".
A investigação, realizada há 10 anos, revelou algumas práticas surpreendentes, como "crianças de 10 ou 11 anos em que os colegas pedem para fazer um video com roupa interior ou que partilham vídeos de balneários, fotografias intimas e sexuais que são partilhadas", recordou.
Teresa afirma que o cenário pouco mudou. Há novas redes sociais, mas a relação dos jovens com o digital permanece inalterada.
"A questão de arriscar, experimentar, tentar fugir ao controlo parental não mudou assim tanto", diz, considerando que "um dos grandes riscos é a falta de confiança dos adultos nos jovens e dos jovens nos adultos".
Por isso são contra a proibição, apesar de reconhecerem que possam existir situações excecionais: "Admito que se proíba os telemóveis no quarto até por uma questão de saúde", concluiu.