O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel rejeitou hoje qualquer escassez de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, contrariando afirmações do secretário-geral da ONU e acusando António Guterres de "espalhar calúnias".

"Não há falta de ajuda humanitária na Faixa de Gaza", afirmou Omer Marmorstein, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel, no X.

"Mais de 25 mil camiões de ajuda passaram pela Faixa de Gaza durante (...) o cessar-fogo" e "o Hamas usou essa ajuda para reconstruir a sua máquina de guerra", acrescentou o mesmo responsável.

Com as suas afirmações, adiantou, Guterres está a "espalhar calúnias contra Israel".

O secretário-geral da ONU afirmou hoje que Gaza tornou-se "num campo de extermínio", onde os "civis estão num ciclo interminável de morte", frisando ainda que Israel não está a cumprir com as suas obrigações "como potência ocupante".

Numa declaração à imprensa, na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, Guterres adotou um tom duro para se referir à realidade ainda mais dura enfrentada pelos palestinianos na Faixa de Gaza.

"Mais de um mês inteiro passou sem uma gota de ajuda em Gaza. Sem comida. Sem combustível. Nenhum remédio. Sem fornecimento comercial. À medida que a ajuda secava, as comportas do horror reabriram-se", disse Guterres.

"Gaza é um campo de extermínio -- e os civis estão num ciclo interminável de morte", reforçou.

Cerca de 1.400 mortes ocorreram desde 18 de março, quando o Exército israelita quebrou o cessar-fogo alcançado em janeiro com o grupo radical palestiniano Hamas e retomou os bombardeamentos e a ofensiva terrestre em Gaza.

"O caminho atual é um beco sem saída -- totalmente intolerável aos olhos do direito internacional e da história", insistiu Guterres.

Destacando tudo aquilo que foi alcançado durante o período de cessar-fogo, como a libertação de reféns ou distribuição de ajuda humanitária vital, o líder da ONU enfatizou que a esperança diminuiu para as famílias palestinianas e para as famílias dos reféns em Israel assim que os ataques foram retomados.

Guterres defendeu clareza sobre a situação atual, assegurando que, com os pontos de passagem para Gaza encerrados e a ajuda bloqueada, "a segurança está em ruínas e a capacidade de entrega da ONU foi estrangulada".

As autoridades israelitas propuseram recentemente "mecanismos de autorização" para a entrega de ajuda em Gaza, "arriscando controlar ainda mais e limitar cruelmente a ajuda até à última caloria e grão de farinha", denunciou ainda o ex-primeiro-ministro português.

O secretário-geral mencionou igualmente o risco da Cisjordânia "se transformar noutra Gaza", tornando todo o cenário ainda pior.

"É tempo de acabar com a desumanização, proteger os civis, libertar os reféns, garantir ajuda vital e renovar o cessar-fogo", concluiu.

As autoridades de Gaza elevaram para mais de 50.700 o número de palestinianos mortos na guerra que Israel trava no enclave palestiniano contra o Hamas, iniciada horas depois do ataque de dimensões sem precedentes cometido pelo grupo extremista palestiniano em território israelita a 07 de outubro de 2023, que fez cerca de 1.200 mortos, na maioria civis, e 251 sequestrados.