"Todos os timorenses têm de defender a sua língua materna, porque representam a sua cultura e a identidade, dependendo das várias regiões do país", disse à Lusa Rosa Tilman, por ocasião do Dia Internacional da Língua Materna, que se assinala na sexta-feira.

Segundo Rosa Tilman, em Timor-Leste há uma grande diversidade cultural e as práticas tradicionais "andam com a palavra do povo", o que significa que muitas cerimónias são apenas realizadas na língua materna.

Mas, lamentou, há línguas maternas que estão a desaparecer e têm cada vez menos falantes.

Em Timor-Leste existem atualmente 16 línguas maternas, se incluirmos o tétum, que era apenas falado na região de Díli, e que hoje é língua oficial e utilizado pela maior parte dos timorenses. O tétum é também a língua utilizada pela igreja católica.

Segundo o artigo "As línguas em Timor-Leste: Perspetivas", de Davi Albuquerque da Universidade Nankai, na China, além do tétum, existem também a habun, galolen, wetarês, kawaimina (junção dos dialetos kairui, waimoa, midiki e naueti), bekais, dawan (denominada no seu dialeto por baikenu e utilizada no enclave de Oecussi), makuva, tokodede, kemak, idalaka, makalero, bunak, fataluku, makasae e o mambae.

Mas, o makasae (utilizada principalmente na região de Baucau) e o mambae (utilizada por um grupo populacional que atravessa vários municípios, como Ermera, Aileu, Ainaro) são os que possuem mais falantes nativos em Timor-Leste.

"A makuva que é uma língua considerada extinta, usada somente em rituais pelos mais velhos no distrito de Lautém", explica Davi Albuquerque.

Uma das missões do Instituto Nacional de Linguística da UNTL é proteger as línguas maternas de Timor-Leste, mas, segundo Rosa Tilman, é um "trabalho difícil", porque muitas são só orais.

"Temos dificuldade de fazer comparações e recolha, bem como o levantamento, porque os pesquisadores linguísticos são poucos", lamentou a responsável, salientando que há línguas que estão a desaparecer, porque cada vez há menos falantes.

O Ministério da Educação de Timor-Leste dedicou toda a semana às celebrações do Dia Internacional da Língua Materna, que arrancou segunda-feira com um seminário e termina na sexta-feira numa escola em Oecussi.

No arranque das celebrações, o vice-primeiro-ministro e ministro coordenador dos Assuntos Sociais, Mariano Assanami Sabino, defendeu a necessidade de "conservação e preservação" das línguas maternas, porque são um "elemento central da identidade nacional" e da "luta pela libertação nacional".

O Dia Internacional da Língua Materna (21 de fevereiro) foi aprovado em 2002 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a qual pediu aos países membros que promovessem a preservação de todas as línguas no mundo, destacando a importância das línguas para o desenvolvimento, a diversidade cultural e o diálogo intercultural.

A data também visa sensibilizar para a perda de línguas em risco de desaparecer devido à globalização e mudanças sociais, e a importância da educação multilíngue, especialmente para línguas minoritárias e indígenas.

O dia vai ser assinalado, hoje e sexta-feira, em Paris, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no evento "Línguas importam: celebração do jubileu de prata do Dia Internacional da Língua Materna", uma iniciativa que visa sublinhar a urgência de acelerar o progresso na diversidade linguística para construir um mundo mais inclusivo e sustentável até 2030.

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