O barómetro foi encomendado pela estrutura central do partido, para sentir o pulso ao sentimento dos madeirenses sobre as eleições regionais antecipadas que o PR, Marcelo Rebelo de Sousa, marcou para o dia 23 de março. E as conclusões transmitidas a Lisboa são claras: na Madeira, são muito poucos os que ainda veem futuro para Miguel Albuquerque, à frente do PSD-M e do governo regional. Curiosamente, a maioria também não vê que a liderança do principal partido da oposição, o PS, esteja bem entregue nas mãos de Paulo Cafôfo. Deviam afastar-se, dizem 75% sobre o social-democrata e 58% sobre o socialista.
Com uma amostra de cerca de 500 eleitores recenseados na Madeira e auscultados logo antes de a moção de censura que derrubou Albuquerque passar — com três quartos dos madeirenses a culpar o Chega pela crise, por "vontade de ganhar protagonismo e votos" —, a auscultação da Pitagórica, a que o SAPO teve acesso, revela um profundo grau de descontentamento dos madeirenses com os atuais líderes do PSD-M e do PS-M, com apenas 14% a admitir que Miguel Albuquerque deveria ser candidato às regionais antecipadas e 31% a admitir Cafôfo como o homem certo para liderar o PS-M nas eleições.
Mais de metade dos madeirenses questionados desaprovam a forma como o atual presidente do governo regional gere a Madeira (só 36% aprovam) e reprovam o próprio líder do partido — tem a maior taxa de rejeição, acima dos 60%, mas Cafôfo está pouco melhor, com 57% a dizer que jamais votaria nele. Apesar de tudo, 72 em cada 100 inquiridos aponta uma vitória do PSD-M nas eleições antecipadas de março.
Arguido principal no caso de corrupção em que pôs sob investigação uma série de contratos suspeitos que ligam o governo da Madeira aos empresários do grupo de construção AFA e de turismo Pestana (revelados ainda em 2023 numa investigação do DN, um ano antes da mega-operação da PJ que levou também à detenção do então presidente da câmara do Funchal, Pedro Calado), Miguel Albuquerque recusou sempre deixar a liderança do partido. E nas internas convocadas já estando no centro da investigação, em março de 2024, tornou a ganhar a liderança do PSD-M, contra Manuel Correia, ainda que reduzindo a margem (54,3% dos votos contra 45,7%).
Não conseguiu, porém, mobilizar depois o voto expressivo dos madeirenses, acabando, em maio de 2024, por obter o pior resultado do seu partido numas regionais madeirenses: uns 36,13% que se chegou a temer não serem suficientes para fazer governo. Juntos, socialistas e JPP tinham 38,21%, mas essa geringonça não vingou e um acordo com o CDS, a par da promessa do Chega de algum apoio no Parlamento regional (mesmo votando "medida a medida") permitiram a Albuquerque governar. Sol de pouca dura: a meio de dezembro, seis meses após tomar posse, caía com a moção de censura que só a AD contrariou.
Desde então, o líder do PSD-M tem sido pressionado para se afastar da liderança, mais (com o próprio Alberto João Jardim à frente dos sociais-democratas regionais) ou menos (pela estrutura central do PSD, no continente) vocalmente. Mas tem-se mantido irredutível na intenção de ficar e ir a votos nas regionais antecipadas do próximo dia 23 de março.
Invocando que não iria dar gás ao que resultaria numa "luta fraticida" no PSD-Madeira, Albuquerque inclusivamente travou na secretaria as eleições internas que uma parte do partido a nível regional se preparava para provocar. Há 15 dias, após reunião do secretariado do PSD Madeira, a pretensão do congresso extraordinário de convocar novas eleições internas foi desfeita com o argumento de que, "dos 562 formulários de subscrição, 233 haviam sido subscritos por militantes com as quotas em dívida", conforme relatava o DN. Decisão a que o principal candidato do PSD-M contra Albuquerque chamou um "golpe palaciano".
Todas as alternativas fariam melhor do que Albuquerque nas urnas
Certo é que, de acordo com o estudo da Pitagórica a que o SAPO teve acesso, os madeirenses parecem preferir qualquer alternativa ao atual líder social-democrata regional. Pelo que revelam as respostas das intenções de voto, considerando quatro possíveis líderes do PSD-M, até Rubina Leal (a menos popular dos quatro) conseguiria um resultado melhor: 25,2% no voto direto, 30,1% contando com a distribuição de indecisos. Albuquerque não chegaria aos 24% no primeiro caso e ficaria pelos 27,2% na segunda.
Num cenário em que o PSD-M fosse às regionais com Manuel Correia na liderança, o regresso à maioria absoluta era quase certo, revelam os perto de 40% de intenções de voto direto (44,6% com distribuição de indecisos) — juntando os 3,8% a 4,3% do CDS, teria mais deputados regionais do que todos os outros partidos juntos. Manuel Correia, recorde-se, tem sido o principal protagonista do PSD-M a desafiar a atual liderança. Contra a qual, aliás, foi candidato logo em 2015, quando se definiu a sucessão de Alberto João Jardim, de cujos governos fez parte como secretário regional. Logo nesse ano, ainda passou à segunda volta, mas acabou derrotado por Miguel Albuquerque, então presidente da Câmara do Funchal.
Curiosamente, revela o mesmo estudo, a fatia de votantes que Paulo Cafôfo (PS) consegue convencer pouco se altera, independentemente do candidato que o PSD-Madeira leve a votos. Contra Albuquerque, ficaria entre os 17,4% e os 19,9%; contra Rubina teria menos um ponto percentual; contra Manuel Correia levaria 14% a 16% e com Pedro Coelho teria apenas mais um ponto.