"Penso que houve um afastamento destas pessoas, que decidiram fazer os seus projetos políticos fora do partido. E lamento, porque acho que todas as posições cabem dentro do Bloco de Esquerda e enriquecem o debate, mas, como digo, encaro com naturalidade estas saídas", considerou Mariana Mortágua, em conferência de imprensa na Assembleia da República.

A bloquista reagia ao anúncio da desvinculação de mais de 70 militantes do BE de Portalegre, através de um comunicado divulgado hoje, ao qual a agência Lusa teve acesso.

Mariana Mortágua afirmou que todos os militantes são bem-vindos, "tenham as opiniões que tiverem, desde que cumpram os estatutos do BE e as posições políticas mínimas do partido", rejeitando as acusações feitas por estes bloquistas de "constante violação da democracia interna".

A dirigente associou ainda estas saídas a uma "tendência organizada" no partido, "que tem sido oposição nas várias convenções" e manifestado "divergências com a linha política do BE, nomeadamente no que diz respeito à Ucrânia".

"Nunca apoiou e, aliás, criticou a direção do Bloco, porque entende que não devíamos enviar material nem apoiar a resistência ucraniana face à invasão, e essa é uma divergência política conhecida", sustentou a deputada.

Sobre as críticas dos bloquistas de Portalegre, que acusaram a direção de desinvestimento naquele distrito, Mortágua negou, afirmando que o partido "tenta ter a maior atividade possível em todos os distritos".

Até ao momento, de acordo com a coordenadora bloquista, o partido só recebeu 12 pedidos de desvinculação dos mais de 70 anunciados e insistiu que nos estatutos do partido não estão previstas "nem adesões, nem desvinculações coletivas".

Interrogada sobre que balanço faz da sua liderança nos últimos dois anos à frente do partido, Mariana Mortágua respondeu que "ainda é cedo" para tal e lembrou que os bloquistas têm uma convenção agendada para 31 de maio e 01 de junho.

"O Bloco tem, na sua origem e na sua forma de funcionamento, diferentes correntes, diferentes grupos que se vão organizando de diferentes formas ao longo do tempo. E quero crer que se organizam por questões políticas, por ideias políticas. Já houve, ao longo da história do Bloco, grupos que foram saindo, que formaram outros partidos. A vida dos partidos é dinâmica. Os partidos evoluem", realçou, salientando que existem 'nuances' na própria evolução da esquerda a nível mundial.

"Essa vida plural da esquerda dos partidos existe e acho que a devemos encarar com naturalidade. De forma nenhuma comparo isso com as condições quer de exercício de democracia, quer de unificação do BE e da sua direção", completou.

 

ARL // JPS

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