Mark Zuckerberg, diretor-executivo da Meta, anunciou o fim da verificação de factos no Facebook. Vai copiar o concorrente Elon Musk, que introduziu as “notas da comunidade” no X. Zuckerberg já não está em Harvard a criar um site para avaliar as colegas mais giras, mas continua a querer agradar aos fixes da turma a todo o custo. O fixe, neste caso, é Donald Trump. Basicamente, os magnatas das redes sociais descobriram que a Rússia interferiu nas eleições de 2016 e pensaram "Que escândalo! Também quero".

Importa lembrar que o perfil de utilizador do Facebook sofreu profundas alterações ao longo da última década. Em 2014, estávamos lá todos, a jogar Farmville. Hoje em dia, é sobretudo povoado por pessoas que têm efetivamente uma horta. Muitos dos atuais frequentadores do Facebook são idosos: a rede social que começou por ter apenas universitários tornou-se numa espécie de gigantesco jardim da Estrela cibernético.

Para além do factor da idade, os utilizadores do Facebook têm menor probabilidade de serem licenciados, terem rendimentos elevados e viverem em cidades do que os do X. Zuckerberg percebeu que tem uma vantagem face a Musk e que o combate às fake news causava entraves à maior oportunidade de negócio da sua rede social: desinformar os mais vulneráveis.

O fim da verificação de factos é uma mudança operacional que se revelará certamente lucrativa, já que as publicações com notícias falsas tornam-se facilmente virais e geram muito mais interações. No fundo, é uma transação: para que o Facebook sobreviva, é preciso que a verdade morra.

O mais aterrador é a quantidade de fãs que estes inventores de verdades têm. Nem precisam de fazer propaganda pelo direito a fazerem propaganda, ela é feita pelos que julgam que eles vão salvar o pensamento livre. É fascinante que se acredite que estes bilionários com interesses vão defender-nos da imprensa controlada por bilionários com interesses. São uma organização obscura que define as notícias que lemos: os desinformaçons.

É também hilariante que se admire politicamente Elon Musk. O dono de uma plataforma onde se difundem notícias junto de 600 milhões de utilizadores ativos vai fazer parte do executivo de Trump, mas é vitoriado pela sua vasta claque quando afirma que os jornalistas têm uma agenda política. É enternecedor que haja adultos a ver esta gente como incansáveis guardiães da liberdade de expressão. Na realidade, estamos a falar de pessoas que nem sequer aguentam ser satirizados por um cartoon. Fica claro que só defendem a liberdade de expressão que lhes dá jeito ou é preciso fazer um desenho?