
Não os vemos, mas sem eles não existiríamos. Na ciência, o princípio é o micróbio. "Um dos exemplos que eu às vezes dou nas aulas é que, sem microrganismos, não estávamos aqui. Foram um dos principais produtores de oxigénio, do oxigénio atmosférico", diz Célia Manaia, professora e investigadora na Universidade Católica e uma dos rostos e vozes da Sociedade Portuguesa de Microbiologia.
"Eles já cá estavam quando nós chegámos e vão cá ficar quando nós partirmos. Isto diz tudo. Eles foram, provavelmente, o grande embrião da vida na Terra e que deram depois origem a toda esta diversidade que hoje conhecemos", acrescenta.
Numa gota de água são milhões de micróbios. Calcula-se que haja 100 milhões de vezes mais bactérias nos oceanos do que estrelas no Universo.
"É uma imensidão e é algo que nós ainda conhecemos relativamente pouco. Apesar da microbiologia como área científica ter crescido ao longo dos últimos 20, 30 anos, eu diria, foi talvez uma revolução, quase; mas ainda há muito que nós desconhecemos", refere a investigadora.
"Ainda hoje em dia são os organismos que produzem metade do oxigénio que respiramos. as pessoas não têm muita noção disso, pensam que o oxigénio vem essencialmente das florestas, uma grande parte vem das florestas, mas todo o oceano tem cianobactérias que produzem o oxigénio que nos alimenta e mantém o planeta como nós estamos aqui", explica Vítor Vasconcelos, diretor do CIIMAR.
Num ser humano podem pesar cerca de dois quilos, aproximadamente o mesmo que o nosso cérebro. E só dentro do nosso intestino existem 40 biliões de microrganismo. É o nosso microbioma, que comanda a nossa saúde.
"Não há provavelmente nenhuma barreira tão eficaz contra os microrganismos nefastos como os microrganismos que têm um papel protetor um papel benéfico. E isto é verdade para solos, é verdade para águas, é verdade para o ambiente em geral, é verdade para o nosso microbioma, é preciso ter microbiomas que sejam efetivamente equilibrados, que sejam robustos", adianta Célia Manaia.
E há uma frase que pode resumir tudo, a partir de que esteve na revolução da ciência alavancada pelos microrganismos. "O papel do infinitamente pequeno na natureza é infinitamente grande", disse Louis Pasteur. "Eles vivem em comunidades muito bem estruturadas, provavelmente, em que comunicam, em que se complementam nas suas funções. Eles provavelmente têm comunidades que nós, se calhar, pudéssemos espreitar para lá diretamente, ficávamos absolutamente fascinados", diz a investigadora e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Microbiologia.