O Ministério Público continua a investigar os contornos da morte de Débora Peralta, de 25 anos, ocorrida em julho de 2023, no Hospital Curry Cabral, Lisboa, depois de um exame para remover pedras da vesícula.

Em resposta à SIC, a Procuradoria-Geral da República (PGR) garantiu que o "inquérito encontra-se em investigação, com diligências em curso".

Isabel Peralta, mãe da jovem, apresentou queixa-crime contra a unidade de saúde e defende que houve negligência médica na morte da filha.

A advogada da família, Ana Rita Cruz, assume que a expectativa é a de que o Ministério Público possa vir a deduzir acusação e levar a julgamento os médicos responsáveis pelo tratamento e acompanhamento de Débora nos dias que levaram à sua morte, sobretudo depois de ter sido revelada a conclusão do inquérito da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).

Relatório de perito causou surpresa

Quase dois anos depois, a IGAS concluiu o inquérito ao caso, o que pode ajudar a que o processo avance na Justiça. As conclusões do perito, a que a SIC teve acesso, causaram alguma surpresa.

“Não estava à espera que a IGAS apontasse o dedo a tantos profissionais de saúde, alguns deles com muitos anos de profissão. Isso dá mais força à família para acreditar que vai ser feita Justiça”, diz a advogada da família, Ana Rita Cruz.

O que diz o relatório da IGAS?

São sete os médicos visados no relatório, incluindo um diretor de serviço. Nas conclusões, a IGAS descreve que o especialista que fez o exame a Débora não voltou a contactá-la, nem procurou inteirar-se da situação clínica. Nem mesmo quando Débora acordou do exame a vomitar sangue.

Este profissional recusou que a hemorragia pudesse ter sido causada por uma perfuração do intestino. Outros profissionais foram entrando e saindo do serviço naqueles seis dias.

Para a IGAS, alguns dos médicos agiram "sob a forma omissiva, com grave negligência". Uma das médicas, um dia após o exame, defendeu mesmo que a jovem não precisava de cirurgia.

Opinião contrariada pelo relatório, que diz ainda que a profissional "saiu de serviço sem que manifestasse o menor interesse pela evolução da situação clínica".

A IGAS considera ainda que um diretor de serviço "agiu com negligência (...). Era imperioso que determinasse a ida para o bloco operatório o mais rapidamente possível".

A Inspeção-Geral propõe que sejam abertos processos disciplinares a cinco médicos e que o hospital decida se abre ou não processos a outros dois, o que fica pendente até que o Ministério Público se pronuncie sobre o caso.

A SIC questionou a Unidade Local de Saúde de São José, à qual pertence o hospital Curry Cabral, que disse que ainda não tinha recebido qualquer notificação sobre o relatório da IGAS e que aguarda pela conclusão do processo.