![Múltiplas manifestações do movimento](https://homepagept.web.sapo.io/assets/img/blank.png)
A hora do início da manifestação em Berlim foi marcada para as 11:55 (hora local) e a música já está alta. Em dimensão, esta é uma versão mais modesta daquele que é conhecido como o desfile ou marcha do orgulho gay que no último verão juntou 84 carros alegóricos. Desta vez não chegam aos cinco, mas o espírito e a vontade são ainda maiores.
"Estamos aqui com ainda mais força", sublinha Ulrike, "porque queremos dizer ao mundo que a direção direita, a direção acertada, não é pela direita, e é isso que estamos a ver acontecer no país."
Há máscaras, perucas, brilhos e vários tipos de efeitos e adornos com todas as cores do arco-íris. Cornelia escolheu preto porque, diz, a "democracia está de luto".
"Isto está a tornar-se perigoso para nós, pessoas queer. A União Democrata Cristã (CDU) vai ganhar as eleições e receio que se volte a juntar à extrema-direita, como fez há umas semanas. Isso não pode acontecer", aponta a berlinense, de 56 anos.
Adem, Sasha e Matthias dão as mãos.
"Juntos somos mais fortes", repetem os três jovens.
"As pessoas falam da extrema-direita por causa das políticas de asilo, dos refugiados. É terrível o que a Alternativa para a Alemanha (AfD) quer fazer nesse domínio, mas não é só aí. Um passo à direita é um passo atrás nos direitos humanos, nos direitos LGBTQI", explicam.
Num dos autocarros de dois andares pode ler-se o mote destas manifestações, "Vota no amor". Um dos organizadores vai descrevendo a importância de sair à rua quando falta pouco mais de uma semana para as eleições legislativas antecipadas.
"É verdade que o nosso 'Brandmauer' (cordão sanitário) contra a extrema-direita tem neste momento algumas fissuras. Mas é nosso dever repará-las, e isso é possível", ouve-se de um dos altifalantes do autocarro que encabeça a marcha.
"Estamos a aperceber-nos de que os nossos direitos estão a ser novamente postos em causa, como o casamento para todos ou a lei da autodeterminação", aponta Marcel Voges, da associação CSD de Berlim.
Na Alemanha, a AfD, a CDU e o partido de Sahra Wagenknecht (BSW), por exemplo, querem abolir estas conquistas, descreve. O objetivo da manifestação é sensibilizar e apelar ao voto nos partidos 'queer-friendly'.
Partidos como o "Die Linke" (A Esquerda) e Volt vão entregando panfletos aos manifestantes e marcam posições. Numa faixa gigante d'A Esquerda pode ler-se "todos os géneros contra o fascismo".
A organização espera conseguir juntar cerca de 100 mil pessoas nas manifestações que decorrem em vários locais da Alemanha. Em Berlim, a polícia contabilizou cerca de três mil participantes.
A Alemanha realiza em 23 de fevereiro eleições legislativas antecipadas - estavam previstas para 28 de setembro -, na sequência da queda da coligação governamental liderada por Olaf Scholz e composta por SPD, liberais do FDP e Verdes.
*** Joana de Sousa Dias, agência Lusa ***
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