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A avenida da Liberdade nasceu para ser o primeiro boulevard de Lisboa. Num tempo em que Lisboa queria ser francesa e os lisboetas ansiavam pelas modernidades da Europa além Pirineus. Mas como tudo o que acontecia no conturbado século XIX português, o homem sonhava mas a obra tardava a nascer. A construção da primeira grande avenida da cidade arrastou-se durante décadas e sobreviveu a custo aos diferentes ritmos das sucessivas administrações camarárias, para além das várias bancarrotas.

E se ainda hoje a avenida suscita acaloradas discussões quanto aos destino a dar a tanto trânsito e as soluções (por vezes engenhosas, mas nada bem-sucedidas) para o mitigar, há 150 anos alguns dos maiores escritores da época, como Eça de Queirós ou Ramalho Ortigão, digladiavam-se furiosamente contra e a favor da sua própria construção. É que a construção da avenida obrigou à demolição de um dos espaços mais queridos da romântica e burguesa capiral portuguesa: o Passeio Público.

José Fonseca Fernandes

O primeiro jardim da capital tinha sempre animação garantida: fosse para para usufruir das várias festas e eventos habituais, como quermesses, bandas filarmónicas ou ate a inauguração do primeiro candeeiro a gás da cidade; fosse para ver e ser-se visto, sobretudo para uma certa franja da sociedade, onde não faltava até uma visita ocasional do rei viúvo, Fernando II.

Mas houve ainda um tempo - não assim tão longínquo na história milenar da cidade - em que no vale da atual avenida apenas corria uma curso de água, a ribeira de Valverde, e nas margens havia quintas e poucos palacetes no chamado Vale do Pereiro. Tempos em que a cidade apenas existia junto ao rio e tudo o resto era paisagem.

O Passeio Público e a construção da avenida da Liberdade são o início de um movimento de expansão para norte, para longe das colinas e do rio, a partir do qual nada, em Lisboa, será como dantes.

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Histórias de Lisboa é um podcast semanal do jornalista da SIC Miguel Franco de Andrade com sonoplastia de Salomé Rita e genérico de Nuno Rosa e Maria Antónia Mendes.

A capa é de Tiago Pereira Santos em azulejo da cozinha do Museu da Cidade - Palácio Pimenta.