O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou nesta terça-feira que irá recomendar ao seu Governo a aprovação de uma proposta de cessar-fogo com o movimento xiita libanês Hezbollah, preparando terreno para o fim de quase 14 meses de combates.

Netanyahu disse que a votação estava prevista para ainda hoje. Não ficou imediatamente claro quando é que o cessar-fogo entrará em vigor, e os termos exatos do acordo não foram divulgados. A duração do cessar-fogo “depende do que acontecer no Líbano”, afirmou. O acordo não afeta a guerra de Israel contra o movimento islamita palestiniano Hamas na Faixa de Gaza, que não mostra sinais de terminar.

Os Estados Unidos, a União Europeia (UE), a ONU e o G7 (grupos dos sete países mais industrializados do mundo) exerceram todos pressão para o fim das hostilidades entre Israel e o grupo armado libanês apoiado pelo Irão: mais de um ano de fogo cruzado transfronteiriço e dois meses de guerra aberta no Líbano.

"O gabinete de segurança israelita vai aprovar um cessar-fogo de 60 dias no Líbano esta noite", anunciou Netanyahu, advertindo, contudo, que o seu país "responderá" se o Hezbollah violar a trégua e manterá uma liberdade de ação "total" no país vizinho. Um cessar-fogo no Líbano permitirá a Israel "concentrar-se na ameaça iraniana", declarou ainda.

O líder israelita referiu que o país tem um “entendimento” com os Estados Unidos e que irá manter “total liberdade para efetuar operações militares” caso o Hezbollah tente atacar. “Se o Hezbollah tentar atacar-nos, se se armar e reconstruir infraestruturas perto da fronteira, nós atacaremos. Se lançarem mísseis, se escavarem grandes túneis, atacaremos”, salientou Netanyahu.

O chefe do executivo israelita falava para a televisão, no final de um dia marcado pelos mais violentos ataques aéreos israelitas ao centro da capital libanesa, Beirute, após apelos de evacuação, e ao seu subúrbio sul - bastião do Hezbollah - desde que Israel lançou, a 23 de setembro, uma campanha de bombardeamentos maciços visando o Hezbollah pró-iraniano no Líbano, e depois iniciou, a 30 de setembro, uma ofensiva terrestre no sul do país.

Tais ataques fizeram pelo menos dez mortos, segundo as autoridades libanesas. Um deputado do Hezbollah, Amin Cherri, acusou Israel de querer "vingar-se dos libaneses" antes de um cessar-fogo.

O exército israelita indicou durante a tarde que mais de 20 projéteis tinham sido disparados contra Israel a partir do Líbano e informou também sobre ataques no sul do Líbano e uma operação terrestre na "região do rio Litani", para norte da qual Israel afirma querer fazer recuar o Hezbollah.

Os ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 apelaram para um "cessar-fogo imediato", ao passo que o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, declarou que o Governo israelita não tinha "mais desculpas" para o recusar.

Segundo o portal de notícias norte-americano Axios, o acordo baseia-se num plano dos Estados Unidos para uma trégua de 60 dias, durante a qual o Hezbollah e o Exército israelita se retirariam do sul do Líbano para permitir que o Exército libanês se instalasse no local.

O plano inclui a criação de uma comissão internacional para controlar a sua aplicação, indicou o Axios, acrescentando que os Estados Unidos garantiram o seu apoio a uma ação militar israelita em caso de atos hostis do Hezbollah. O ministro da Defesa israelita, Israël Katz, avisou que o seu país agirá "energicamente" em caso de violação do acordo.

A mediação internacional assentou na Resolução 1701 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que pôs fim à anterior guerra entre Israel e o Hezbollah, em 2006, e estipula que apenas o Exército libanês e as forças de manutenção da paz podem ser destacados para a fronteira sul do Líbano.

No entanto, Netanyahu terá de convencer os seus aliados de extrema-direita: na segunda-feira, o seu ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, afirmou que um cessar-fogo seria "um grande erro".

A guerra em curso desde outubro de 2023 na Faixa de Gaza entre Israel e o Hamas estendeu-se ao Líbano após um ano de fogo cruzado de ambos os lados da fronteira israelo-libanesa.

Israel afirma querer neutralizar o Hezbollah no sul do Líbano - que abriu uma frente de batalha contra o seu território a 8 de outubro de 2023, em apoio ao seu aliado Hamas - para permitir o regresso de cerca de 60 mil habitantes do norte do país deslocados pelo seu fogo.

Segundo o Ministério da Saúde libanês, cerca de 3800 pessoas foram mortas no Líbano desde outubro de 2023, a maioria das quais desde setembro último. As hostilidades provocaram também a deslocação de cerca de 900 mil pessoas, de acordo com a ONU. Do lado israelita, 82 soldados e 47 civis foram mortos em 13 meses.