O Governo confirmou, esta quinta-feira, que a escolha para suceder a Mário Centeno no Banco de Portugal (BdP) recaiu sobre Álvaro Santos Pereira, um nome de “sucesso e reconhecimento internacional”, sublinhou o ministro da Presidência. Outro foi, porém, o entendimento dos partidos à Esquerda.

A partir dos Passos Perdidos, na Assembleia da República, Livre, PCP e PAN não tardaram a criticar a escolha.

Pelo Livre, a deputada Patrícia Gonçalves manifestou preocupação com a escolha por “parece ser uma nomeação política para um cargo ao qual se exige independência do poder político. Álvaro Santos Pereira foi o ministro da Economia nos tempos do passismo, no tempo da troika, e preocupa-nos que haja o regresso, nesta nomeação como governador do BdP, de um ex-ministro de Passos, por um Governo que está a dar passos atrás”, disse.

No mesmo sentido, a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, recordou que “foi ministro do período da troika com tudo o que significou esse período de empobrecimento no nosso país”, além disso, “conhecemos as opções políticas de Álvaro Santos Pereira do que foi enquanto teve responsabilidades no Governo”

“Impunha-se uma posição de defesa do interesse nacional e da nossa soberania” mas, concluiu, “não se vê isso na escolha do Governo”

Já a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, considerou que a nomeação de Álvaro Santos Pereira para o BdP mostra que “Luís Montenegro não consegue sair deste ciclo vicioso de ir reciclar ministros do tempo da troika e também de Passos Coelho. Lamentamos que não tenha o rasgo e a visão de trazer nova políticas, aliás de estar a ir buscar políticas das quais os portugueses estão cansados".

Opinião diferente tem o líder parlamentar do parceiro de coligação do Governo. Para o centrista Paulo Núncio, Álvaro Santos Pereira “é uma boa escolha do Governo, tem um sólido currículo académico e de economista (…), isso dá-nos todas as garantias para o bom exercício do cargo e esta decisão do Governo é um virar de página no Banco de Portugal”.

Mais, destacou: “Não tem qualquer filiação poltico-partidária, quando esteve no Governo atuou sempre como independente, para além disso há mais de 10 anos que etsá fora do pais a exercer um cargo de enorme reputação como é o de economista chefe da OCDE, isso são caracteristicas que garantem ao CDS que o exercício do cargo vai ser feito com total independência do poder político”.

Na rede social X, a líder liberal optou por primeiro “congratular” não a nomeação de Álvaro Santos Pereira mas a saída de Mário Centeno. “A forma como entrou no cargo através de uma porta giratória entre política e regulador já fazia adivinhar que seria um governador que exerceria o cargo como actor político com interesses políticos, como o fez”.

Quanto a Álvaro Santos Pereira, Mariana Leitão destaca o currículo “internacional sólido, com experiência relevante nas áreas da economia e política económica”, ainda assim, alerta para o facto de ser um “ex-ministro de um governo do PSD agora indicado por outro governo do PSD”, o que deixa “dúvidas quanto à percepção de independência em relação ao poder político”.

A próposito de PSD, coube ao vice-presidente da bancada laranja, Hugo Carneiro, o elogio à escolha do Governo - “é uma pessoa absolutamente isenta e independente” -, mas também as resposta às críticas, em particular do PS.

“[Mário Centeno] saltou diretamente de ministro das Finanças para governador do BdP. Portanto, devolvo as questões ou as dúvidas, porque o PS, se tem tantas dúvidas, então que justifique aos portugueses porque é que num determinado momento, há cinco anos, decidiu como decidiu”, lembrou, vincando que “as situações não são comparáveis. Álvaro Santos Pereira, pelo menos há uma década, ou mais de uma década, está afastado de qualquer função governativa ou partidária em Portugal”.

Mas o que disse o PS? O deputado Miguel Cabrita defendeu que, e apesar de Álvaro Santos Pereira "merecer o respeito do PS", estamos perante uma "substituição que é exclusivamente política, é exclusivamente ditada por razões políticas, uma vez que, como aliás foi dito, não estão em causa nem as condições, nem as competências, nem o desempenho do atual governador do Banco de Portugal, que aliás é uma pessoa que é um ativo do país e que prestigiou Portugal em todas as funções que desempenhou do ponto de vista público ao longo da sua carreira.

Sobre as questões da independência, o deputado do PS apontou que “Álvaro Santos Pereira será tão independente como Mário Centeno”. Nenhum deles, concluiu, “é militante de nenhum partido político”.