
O palestiniano Mosab Abu Toha, nascido na Faixa de Gaza em 1992, foi esta terça-feira vencedor do Pulitzer na categoria de comentário, por uma série de quatro trabalhos publicados na revista "The New Yorker" entre fevereiro e dezembro de 2024. Fundador da primeira biblioteca pública de língua inglesa do enclave há um ano e meio sob forte ataque israelita, teve de fugir para o Egito com a família após ser detido pelo exército agressor em novembro de 2023.
Nos quatro ensaios publicados na prestigiada revista norte-americana, Mosab Abu Toha fez o relato das escalas e situações do exílio familiar até chegar aos Estados Unidos, onde agora se encontra. No primeiro, My Family’s Daily Struggle to Find Food in Gaza, aproveitava uma refeição no Cairo para falar da fome extrema no território em guerra, enquanto no segundo falava do modo como compreendeu a distinção entre um viajante e um refugiado na sua chegada a Syracuse, Nova Iorque.
"Sempre que visito amigos nos Estados Unidos, vejo retratos de pais, avós e até bisavós na parede, e o meu coração fica apertado. Por que não herdei tais tesouros? Terá sido porque Hasan viveu e morreu num campo de refugiados? Se ele guardou os documentos e fotografias que poderiam responder às minhas perguntas sobre ele, será que ainda existem agora, depois de tudo o que Gaza sofreu?", escreveu no terceiro destes textos, intitulado The Gaza We Leave Behind.
Sudão, Afeganistão, Trump e a crise do Fentanil
O anúncio dos vencedores dos prémios Pulitzer não podia deixar de destacar este escritor que, em 2022, tinha ganho o Palestine Book Award e o American book Award pela coleção de poemas "Things You May Find Hidden in My Ear (City Lights)". Mas teve outros protagonistas, como as redações da agência Reuters no domínio do jornalismo de investigação ou do jornal "The Washington Post" no de breaking news, pela cobertura do atentado contra Donald Trump em julho de 2024 - tema pelo qual também o fotógrafo Doug Mills, do "The New York Times" (NYT), seria distinguido.
Desta mesma publicação, os jornalistas Azam Ahmed, Matthieu Aikins e Christina Goldbaum foram contemplados pela análise feita "ao modo como os Estados Unidos semearam as sementes do seu próprio fracasso no Afeganistão, principalmente ao apoiarem milícias assassinas que levaram os civis aos Talibãs", segundo o site dos Pulitzer. Assim como Declan Walsh, que venceu a categoria de reportagem internacional com a cobertura do conflito no Sudão. Já no campo da reportagem local, destacaram-se cinco trabalhos de Alissa Zhu, Nick Thieme e Jessica Gallagher sobre a crise do Fentanil em Baltimore.
Lugar aos livros
No campo da literatura de ficção, o Pulitzer aterrou nas mãos do escritor Percival Everett pelo romance "James", acabado de sair em Portugal sob a chancela Livros do Brasil e segundo livro do autor publicado por cá, depois de "As Árvores", de 2023. A poesia de Marie Howe foi também premiada, assim como "Every Living Thing: The Great and Deadly Race to Know All Life", a dupla biografia de Carl Linnaeus e Georges-Louis de Buffon, que no século XVIII se dedicaram a identificar e descrever os segredos da natureza, escrita por Jason Roberts.
A peça de teatro "Purpose", de Branden Jacobs-Jenkins, "sobre a dinâmica complexa e o legado de uma família afro-americana de classe média alta cujo patriarca foi uma figura-chave no Movimento dos Direitos Civis", arrebatou o prémio de dramaturgia, do mesmo modo que
"To the Success of Our Hopeless Cause: The Many Lives of the Soviet Dissident Movement", da autoria de Benjamin Nathans - que conta a história de um dissidente soviético - ganhou o de não-ficção.