
Jeffrey Goldberg, editor-chefe da revista “The Atlantic”, revelou na segunda-feira como foi incluído num grupo da aplicação Signal com vários altos funcionários da administração de Trump onde se divulgaram planos de ataque a rebeldes hutis no Iémen. Algumas mensagens, como a resistência do vice-presidente norte-americano, JD Vance, em avançar com a ofensiva, escrevendo “simplesmente odeio resgatar a Europa outra vez” foram divulgadas nesse momento. Os detalhes sobre armas utilizadas, alvo e cronologia antecipada dos ataques foram inicialmente omitidos. No entanto, perante a insistência de membros da administração em como as mensagens não envolveram planos de guerra, a ‘The Atlantic’ decidiu que é do “interesse público” divulgar também essas mensagens para que as pessoas “cheguem às suas próprias conclusões”. E avançou para a publicação desses planos.
O jornalista foi incluído no grupo do Signal pelo conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Michael Waltz. O Presidente dos EUA, Donald Trump, defendeu-o, dizendo que o incidente “é a única falha técnica em dois meses e não foi nada de grave”. Leia aqui sobre como este episódio pode representar uma violação da segurança nacional dos Estados Unidos.
O artigo da ‘The Atlantic’ inclui imagens das mensagens trocadas, onde se podem ler as horas a que seriam feitos ataques aéreos das forças americanas no dia 15 de março, bem como o tipo de equipamento a ser utilizado. Um membro do grupo, identificado como Pete Hegseth, nome do Secretário da Defesa americano, publicou os seguintes detalhes:
“Hora agora (1144et): O tempo está FAVORÁVEL. CONFIRMADO agora mesmo c/ CENTCOM que podemos AVANÇAR para o lançamento da missão
1215et: LANÇAMENTO F-18s (1º pacote de ataque)
1345: Inicia-se a janela do 1º ataque de F-18 ‘com base em gatilhos’ (o terrorista alvo está na sua localização conhecida por isso DEVE SER A TEMPO) - além disso, lançamento de drones de ataque (MQ-9s)
1410: Mais LANÇAMENTO F-18s (2ª pacote de ataque)
1415: Drones de ataque ao alvo (ESTE É O MOMENTO EM QUE AS PRIMEIRAS BOMBAS VÃO DEFINITIVAMENTE CAIR, dependendo dos alvos ‘com base em gatilhos’ anteriores).
1536: Começa 2º ataque de F-18 - além disso, primeiros Tomahawks marítimos lançados.”
Depois de um pedido de esclarecimento por parte do utilizador “JD Vance” em resposta a uma mensagem de Michael Waltz no grupo a anunciar o colapso de um edifício e de múltiplas identificações positivas, são reveladas informações sobre um dos alvos. “A escrever demasiado depressa. O primeiro alvo - o tipo de topo dos mísseis - tivemos uma identificação positiva dele a entrar no edifício da namorada e agora desabou”, clarificou Waltz. Seguiram-se várias reações, incluindo um “Excelente” de JD Vance e, mais tarde, a indicação de Pete Hegseth de que os ataques iriam continuar. “Mais ataques a acontecerem durante horas esta noite, e fornecemos um relatório inicial completo amanhã”, pode ler-se.
Antes destas mensagens serem divulgadas, Trump afirmou que “não havia informação classificada, segundo o que entendi”, escreveu a ‘ABC News’. Além do Presidente, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, informou que não foram discutidos “planos de guerra” no grupo de mensagens e afirmou que o jornalista é conhecido pelas suas “reportagens sensacionalistas”.
Houve ainda outras figuras a rejeitarem que tivesse sido partilhada informação confidencial na troca de mensagens em causa. “Posso garantir que não foram incluídas informações classificadas no grupo, em nenhum momento”, afirmou a chefe das secretas, Tulsi Gabbard, numa audição de uma comissão do Senado, citada pela ‘NBC News’. Questionada sobre se a informação partilhada deveria ser classificada, Gabbard remeteu essa responsabilidade para Hegseth e o Conselho de Segurança Nacional, relatou a CNN internacional. Também o diretor da CIA, John Ratcliffe, observou que a “autoridade” para determinar que informação é classificada recai no Secretário da Defesa, acrescentando que o mesmo disse aos media "que a informação não era classificada”.
Segundo o 'Politico', foi atribuída ao juiz James Boasberg uma ação judicial contra membros da administração, promovida pela American Oversight, que alega que terem sido violadas leis federais sobre a manutenção de registos ao utilizarem o grupo de Signal para discutir o planeamento de ataques militares. Boasberg é o juíz que tentou recentemente bloquear a deportação de cidadãos venezuelanos.