
Uma operação coordenada pela Interpol em 90 países, incluindo Portugal, resultou na apreensão de 50,4 milhões de produtos farmacêuticos ilícitos, no valor de 65 milhões de dólares, numa "escala alarmante" do comércio global de medicamentos não autorizados e falsificados.
Uma informação publicada hoje no 'site' da Interpol refere que a "Operação Pangea XVII", que se realiza internacionalmente há 17 anos e que decorreu entre dezembro de 2024 e maio de 2025, resultou na prisão de 769 suspeitos e no desmantelamento de 123 grupos criminosos em todo o mundo.
No que se refere a Portugal, a Interpol refere que esteroides e anabolizantes foram descobertos em oito prisões do país, "revelando evidências de uma rede criminosa que contrabandeia substâncias ilícitas para unidades correcionais", mas sem referir detenções nem o valor dos produtos apreendidos.
A Interpol refere que as prisões e as apreensões são as maiores nos 17 anos de história da operação, salientando que agentes para o sistema nervoso, incluindo psicoestimulantes, ansiolíticos e medicamentos para a doença de Parkinson, lideraram a lista do tipo de produto mais apreendidos, com os medicamentos para disfunção erétil em segundo lugar.
Outros tipos de produtos habitualmente apreendidos incluem esteroides anabolizantes, medicamentos antidiabéticos, produtos antitabagismo, agentes dermatológicos, suplementos de saúde, produtos fitoterápicos e agentes psicoterapêuticos.
O diretor da área de Crime Organizado e Emergente da Ingterpol,David Caunter, destaca na publicação que medicamentos falsificados e não aprovados "representam um sério risco para a saúde pública", pois podem conter ingredientes perigosos ou ilegais, com potencial para causar doenças graves ou até mesmo a morte.
Afirma ainda que "o rápido crescimento das plataformas online tornou mais fácil para essas drogas perigosas chegarem às pessoas, além de abrir novas oportunidades para redes criminosas explorarem", salientando, a importância das operações "Pangea" para, num trabalho conjunto, os países tomarem medidas para proteger a saúde das pessoas e manterem os sistemas de saúde seguros.
Esta mais recente operação revelou uma procura crescente por medicamentos antidiabéticos e suplementos peptídicos (moléculas formadas pela união de dois ou mais aminoácidos), impulsionada pelo aumento da automedicação.
Essa tendência está, segundo a Interpol, a ser impulsionada pela ampla promoção e disponibilidade desses medicamentos nas redes sociais e online, criando oportunidades lucrativas e de risco relativamente baixo para redes criminosas que vendem produtos falsificados ou de baixa qualidade.
Dados dos países participantes indicam uma circulação crescente de medicamentos antidiabéticos ilícitos em todo o mundo devido aos seus efeitos de perda de peso, com medicamentos não aprovados e potencialmente falsos apreendidos na Ásia-Pacífico, Europa e América do Norte.
As apreensões corroboram alertas recentes da Organização Mundial da Saúde e de vários reguladoras nacionais de saúde a alertar sobre riscos emergentes associados aos medicamentos injetáveis relacionados ao GLP-1 (Medicamentos análogos ao GLP-1 são utilizados no tratamento do diabetes tipo 2 e da obesidade).
A Interpol adianta que a "Operação Pangea XVII" revelou outra tendência emergente, que é a crescente procura por suplementos peptídicos devido aos seus benefícios estéticos e de melhoria de desempenho, especialmente em países da Europa, América do Norte e Oceânia.
No total, agências de segurança em todo o mundo iniciaram 1.728 investigações e emitiram 847 mandados de busca contra redes criminosas envolvidas na distribuição ilícita de produtos farmacêuticos.
Cerca de 93% dos produtos farmacêuticos ilícitos apreendidos não tinham aprovação regulatória das autoridades nacionais de saúde e os 7% restantes foram confirmados como produtos falsificados, desviados ou com marca incorreta.
Grandes apreensões de vários produtos farmacêuticos ilícitos foram relatadas de forma semelhante no Canadá, Irlanda, Malásia, Holanda, Portugal, Espanha, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos, entre outros países.
A "Operação Pangea XVII" levou também ao encerramento de aproximadamente 13.000 sites, canais e bots (computador projetado para executar tarefas automatizadas de forma repetitiva e rápida) ligados a criminosos e usados para comercializar e vender medicamentos ilegais ou falsificados.