O presidente do novo Conselho Nacional para as Migrações e Asilo, António Vitorino, defende que há várias modalidades possíveis de regular a imigração em Portugal e pede "ousadia" ao Governo para ir à "procura de imigrantes".
Numa entrevista à Renascença e ao Público, publicada esta quinta-feira, o ex-comissário europeu afirma que, apesar de haver "várias modalidade possíveis de organizar a imigração regular", o Governo optou por uma que considera não ser suficiente.
"O Governo manifestou uma preferência, que é as pessoas pedem um visto de trabalho e têm um contrato de trabalho. Isso é uma das modalidades possíveis. Creio que não é suficiente. Creio que é necessário ser mais ousado para um país com as características do nosso."
António Vitorino pede ousadia ao Governo no sentido "de ser proativo na procura de imigrantes que são necessários para determinados perfis na sociedade portuguesa", destacando os números da imigração em setores como a agricultura, pesca, hotelaria, turismo e construção civil.
"É relativamente evidente que este contingente de imigrantes é necessário para garantir uma coisa muito simples: a economia portuguesa", defende.
O antigo diretor-Geral da Organização Internacional para as Migrações reconhece ainda que é preciso imigração qualificada como pretende o primeiro-ministro, mas "não só": "Se for aos lares de idosos, se for ao serviço doméstico, se for aos cuidados para crianças, verificará que não é preciso ter nenhum PhD, não é preciso ter nenhum doutoramento para preencher esses postos de trabalho."
"Esse é o grande equívoco da narrativa hoje: de que só precisamos de trabalhadores qualificados. Não é verdade. Precisamos de trabalhadores de todas as categorias de qualificações. Eu não conheço nenhuma lista de espera de portugueses para irem à apanha do fruto vermelho em Odemira."
Na entrevista, António Vitorino afirma ainda que não se pode "rotular como racistas e xenófobos todos os que se sentem desconfortáveis perante os fluxos migratórios", porque "conviver com a diversidade é um exercício às vezes difícil". Para isto, defende a necessidade de apostar nas políticas de integração na sociedade portuguesa e na articulação com os países de origem dos imigrantes.
Entrada de imigrantes em Portugal aumenta 95% em dois anos
A entrada de imigrantes em Portugal aumentou 95% em dois anos. Dados revelados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que o número atingiu o valor mais alto desde 2015.
A população residente em Portugal voltou a aumentar no ano passado. Em 2023, viviam mais de 10 milhões e meio de pessoas, o que representa um aumento de 123 mil habitantes em relação ao ano anterior. Um crescimento que se deve à imigração.
Estima-se que tenham entrado perto de 190 mil imigrantes permanentes, um aumento de 95% quando comparado com o valor registado em 2021.