"Já merecia um título de doutor 'honoris causa', e numas áreas que nós achamos que são áreas fundamentais para o desenvolvimento deste país. Estamos a falar da questão da educação, da cidadania e da governação (...). Foi um Presidente, chefe de Estado, que destacou-se no setor da educação, destacou-se no setor da governação, e não só a governação, mas boa governação, mas também em cidadania, valores de cidadania para o povo moçambicano", disse Chapo, em declarações aos jornalistas.

A UEM, a maior universidade de Moçambique, outorgou hoje, postumamente, em Maputo, o título de doutor 'honoris causa' a Samora Machel pelo seu "legado intelectual, político e pedagógico".

O título, entregue no âmbito das comemorações dos 50 anos da independência de Moçambique, proclamada por Samora Machel (1933 -- 1986) em 25 de junho de 1975, foi proposto pelas Faculdades de Educação e a de Letras e Ciências Sociais e pelo Centro de Estudos Africanos, três unidades orgânicas da UEM, pelo seu papel na "educação, governação e cidadania".

"É uma outorga merecida, e achamos que todos nós, como moçambicanos, nestas festividades rumo aos 50 anos da independência, veio mesmo a calhar, um momento certo para o reconhecimento deste filho de moçambicanos, que foi o primeiro Presidente da República de Moçambique independente, e que achamos que os seus valores devem continuar a ser preservados pela juventude", acrescentou Daniel Chapo, no final da cerimónia de hoje a que assistiram ainda, além da viúva, Graça Machel, e outros familiares, os antigos chefes de Estado Joaquim Chissano e Armando Guebuza.

Na sua intervenção na cerimónia de hoje, o reitor da UEM, Manuel Guilherme Júnior, destacou Samora Machel como "estratega militar", a sua "notoriedade" no teatro da guerra de libertação e na organização da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), mas também recordou que "liderou uma ofensiva diplomática" que permitiu angariar apoios internacionais à causa moçambicana. E igualmente pela "liderança transformadora" após a independência de Moçambique, disse o reitor.

Na apresentação do título, representando as unidades que o propuseram, o diretor da Faculdade de Educação da UEM, Xavier Muianga, destacou o "legado" intelectual, político e pedagógico de Samora Machel, para explicar a decisão.

"Deve-se ao seu reconhecimento de influência notável e permanente no pensamento académico, na liderança política e na prática educativa. Samora foi mais do que um Presidente, foi um educador, um pensador, estratega e visionário pan-africanista. As suas contribuições transcendem o tempo e o espaço", disse Muianga, sublinhando que a atribuição deste título pretende "perpetuar" a memória do histórico líder moçambicano e "estimular a juventude a continuar a obra".

Samora Moisés Machel nasceu a 29 de setembro de 1933, em Chilembene, distrito de Chókwe, província de Gaza, frequentou escolas missionárias e chegou a trabalhar como enfermeiro na ilha de Inhaca e no Hospital Miguel Bombarda (atual Hospital Central de Maputo), onde iniciou a sua militância política, denunciando injustiças laborais e raciais do regime colonial português.

Já perseguido internamente, em 1963 abandonou o país e juntou-se à Frelimo, fundada no ano anterior na Tanzânia, assumindo no ano seguinte o cargo de comandante das Forças Armadas de Libertação de Moçambique.

Após o assassínio do histórico líder fundador da Frelimo, Eduardo Mondlane, em 1969, Samora Machel assumiu a liderança do movimento nacionalista, tornando-se em 1975 o primeiro Presidente da República de Moçambique, proclamando a independência do país.

Samora Machel perdeu a vida em 19 de outubro de 1986,num acidente aéreo na África do Sul.

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