
A mais recente coleção da Prada, apresentada durante a Semana da Moda de Milão, está a gerar forte polémica internacional. A marca italiana exibiu sandálias de couro com um design semelhante às tradicionais sandálias Kolhapuri, originárias da Índia.
A reação ao desfile foi imediata. Vários artesãos indianos, políticos e organizações comerciais acusaram a Prada de apropriação cultural, alegando que a empresa reproduziu o modelo tradicional das sandálias, com séculos de história, sem dar crédito ou compensação às comunidades. De acordo com a BBC, não foi feita qualquer referência às origens indianas da peça nas notas do desfile.
Os fabricantes de Kolhapuris ficaram indignados com a ausência de crédito à tradição indiana, noticiou a Al Jazeera. Reuniram-se, então, com o chefe do governo de Maharashtra e com o deputado Dhananjay Mahadik, que anunciou a intenção de avançar com um processo judicial contra a Prada no Tribunal Superior de Bombaim, acusando a marca de “violação da identidade cultural” da região.
Agora, a marca de luxo Prada vem reconhecer que o design das novas sandálias foi “inspirado pelo calçado artesanal tradicional indiano”, nomeadamente pelas famosas Kolhapuri chappals - sandálias feitas à mão com uma história que remonta ao século XII e originárias da cidade de Kolhapur, no estado de Maharashtra, na Índia.
À Reuters, Lorenzo Bertelli, responsável pela área de responsabilidade social da Prada, disse que a casa de luxo respondeu oficialmente à Câmara de Comércio de Maharashtra, reconhecendo a inspiração nos artesãos indianos. Na mesma carta, explicou que a coleção ainda se encontra em fase inicial e que a empresa está aberta a um “diálogo de troca significativa” com artesãos locais.
A diferença de preço entre as sandálias originais e o modelo da Prada salta à vista. Uma Kolhapuri autêntica pode custar cerca de 12 dólares (aproximadamente 11 euros) na Índia, enquanto as sandálias da Prada, segundo a Reuters, estão avaliadas entre 844 e 1.400 dólares.
“Estas sandálias são feitas com o esforço dos trabalhadores do couro de Kolhapur. Devem levar o nome da nossa cidade. Não se aproveitem do trabalho dos outros", disse Prabha Satpute , artesã de Kolhapur, à BBC.
Apesar da indignação, há artesãos que vêem neste caso uma possibilidade de visibilidade global.
“Roubaram o nosso trabalho, mas agora o mundo inteiro está a olhar para as nossas chappals", referiu Harish Kurade , artesão da região de Kolhapur, à Al Jazeera.
Ainda assim, lamentou a falta de apoio do governo indiano e o impacto das políticas religiosas que limitaram o acesso a peles de búfalo - matéria-prima essencial para estas sandálias.
A polémica com a Prada estará a gerar um aumento de vendas. A plataforma indiana Shopkop registou um pico de procura e publicou nas redes sociais: “Prada 0: Kolhapur 1”. O seu fundador, Rahul Kamble, revelou que as vendas quintuplicaram, três dias após o escândalo.
A Prada estará agora a considerar produzir os modelos na Índia, em colaboração com fabricantes locais, caso avance com a venda das sandálias. A empresa também mostrou interesse em desenvolver uma coleção limitada em parceria com artesãos indianos, segundo diz o presidente da câmara de comércio local, Lalit Gandhi.