O presidente do Serviço Regional de Protecção Civil da Madeira afirma que, neste momento, os meios já estão atentos e a atacar os incêndios rurais de forma robusta logo no início, como forma de evitar males maiores por ataque inicial com poucos meios. Richard Marques espera que o segundo helicóptero, que se pretende esteja de prontidão em caso de incêndios rurais, chegue à ilha a 1 de Julho, mas ainda não tem garantias dado que o Executivo nacional mudou e os prazos podem ser adiados. Ainda assim, salientou que os serviços estão preparados para receber o equipamento prometido pelo Governo da República que irá assim apoiar o outro helicóptero de serviço o ano todo e pago pelos cofres regionais.

No cargo há menos de 6 meses, o bombeiro de formação falava esta manhã no programa "Bola no Ar" da TSF Madeira (100.0 FM), conduzido por Fernando Rodrigues e Emanuel Machado. Diz ter encontrado uma "equipa muito motivada e muito comprometida" com a protecção e socorro dos madeirenses e porto-santenses. Ainda assim salienta que após uma fase de capacitação e de mudança de paradigma do sistema de protecção civil e portanto adaptação daquilo que são os desígnios da protecção civil no mundo actual, seguindo-se outro de valorização, organização e construção de uma solução, permite chegar, "após 10 anos", apostar na inovação e na optimização". Ou seja, no futuro, que será nos próximos 3 anos e que denominam de "POCIF 3.0", Richard Marques pretende trazer uma abordagem diferente, com objectivos prioritários a serem aplicados no imediato.

Nesta época em que há maior perigo de acontecerem incêndios rurais, Richard Marques aponta que as exigências são de tal forma que "o comportamento do incêndio rural hoje não é o mesmo de há 20 anos, muito por causa das alterações climáticas, porque se demorava 3 a 4 horas a desenvolver-se do ponto A ao ponto B, hoje chega lá em 30 minutos" e, por isso, realça, "o dispositivo tem que ajustar a isto". E acrescentou: "E há ainda as alterações nas dinâmicas económico-sociais. A Região tem um crescimento do turismo que é, de facto, notório e isso, também, traz desafios as sistema de emergência e protecção civil. O tipo de turistas, o volume de turistas e se temos mais turistas, com certeza, temos mais ocorrências, o que é normal.

Também recorda que de facto, a Madeira tem actualmente residentes contabilizados, mas também pessoas que passam por cá de forma temporária, seja a viver, seja a trabalhar, que muitas vezes não são contabilizados, ainda que continue a ser um lugar muito seguro e com qualidade de vida notável. Ainda assim, assegura que o sistema de emergência e protecção civil é que se tem de adaptar a este crescimento e não o contrário. "Tudo o que fazemos é aproximar os nossos mecanismos de resposta àquilo que são os desafios, mas atempadamente, a montante. Por isso é que temos de planear", garantiu.

Lembrando que o dispositivo de combate a incêndios na Madeira funciona o ano todo, o presidente do SRPC, precisamente porque aprendeu-se que as alterações climáticas deixaram de balizar os tipos de ocorrências pelo sistema de clima como o conhecemos (Inverno, Primavera, Verão e Outono), o que implica que podemos ter e já tivemos incêndios muito fora do padrão daquelas que era a janela temporal em que os incêndios ocorriam. O dispositivo agora está presente o ano todo, mas difere do número de efectivos disponíveis, inclusive um dedicado só aos incêndios rurais, para fazer prevenção, vigilância, detecção precoce e para responder de uma forma mais dedicada, sobretudo para não comprometer as outras áreas de intervenção. "E a 1 de Julho vai ter um acréscimo, altura em que além do helicóptero que já está cá o ano todo - pago pelos cofres reginais - não só para dar apoio aos incêndios ruais mas também para o resgate, possamos ter um segundo helicóptero suportado pelo Governo da República. "A ideia é ter um helicóptero de tipologia diferente da que temos - este é de porte médio, que tem limitações e vantagens - e o dispositivo está pronto para recebê-lo. Em termos logísticos o centro operacional da Cancela está preparado", frisa.

No referido programa radiofónico, Richard Marques lembrou que muito do trabalho que os meios de protecção civil poderão não ter passará pelo comportamento das pessoas. Questionado sobre a questão da limpeza dos terrenos, lembrou que isso passa pela prevenção estrutural, feito a montante contribui para aquilo que é a missão dos agentes de protecção civil. "Não basta haver calor, desidratação dos combustíveis, vento para haver incêndios. Temos de ter aqui um elemento a acrescentar, que é o facto de 90 e muitos por cento das situações têm a haver com comportamento humano, a esmagadora maioria são situações de negligência e isso requer que o cidadão esteja mais atento àquilo que é a sua responsabilidade", atirou.

Lembrando que os incêndios começam sempre pequenos, em casa ou no mato, Richard Marques afirma que o conceito de operação neste momento é apostar no "músculo no ataque inicial, porque enquanto eles são pequenos, enquanto eu tenho alguns mecanismos a meu favor, tenho que apostar na sua supressão. O incêndio rural é um exemplo disso, no primeiros 90 minutos ainda é nascente e há capacidade de combate, mas quando ultrapassa essa opção, os meios têm de ser mais diferenciados e com outros tempos de resposta", garante.