Concluído este processo eleitoral e clarificado quem os portugueses pretendem que forme governo, é hora de focar o espaço público para a discussão sobre o que falta fazer e as políticas públicas a encetar com vista à melhoria das condições de vida em Portugal.

No que diz respeito à juventude, os dados sobre as tendências eleitorais têm mostrado também uma clarificação significativa. Em 2024, quando a AD e o PS ficaram praticamente empatados no resultado global, a faixa etária entre os 18 e os 34 anos deu à AD 28%, ao Chega 25%, ao PS 13% e à IL 11%. Se é verdade que se poderia prever um natural desgaste junto dos jovens por parte do PS, fruto de nove anos de governação, e mesmo sabendo que ainda não há dados concretos para a distribuição etária do voto para as eleições do passado domingo, podemos com segurança afirmar que a AD foi novamente, pelo menos, a opção que recolheu mais apoio dos jovens dentro dos partidos ou coligações tradicionais. Entre marés frescas da IL e do Livre e ondas turbulentas do Chega, que parecem estar a seduzir o eleitorado jovem, ao que tudo indica deixou-se o barco da AD continuar a navegar, como a música de campanha apelava.

Este voto de confiança pode-se compreender por uma série de fatores. A capacidade de comunicação noutros formatos, aposta em quadros jovens, ou até alguma eventual tendência ideológica destes tempos, que pode ultrapassar méritos próprios, mas diria, sobretudo, pela centralidade que algumas políticas públicas direcionadas aos jovens tiveram. Foram prometidas, entraram em vigor e foram comunicadas de forma eficaz. Em 11 meses implementaram-se diversas medidas, entre elas várias direcionadas ao lado da procura e que rapidamente poderiam produzir efeitos como a isenção de IMT e imposto de selo, a garantia pública na compra da primeira habitação, ou o passe ferroviário verde.

É por isso que o que surge perante nós é uma oportunidade geracional. Uma vez reunidas as condições de governabilidade que o regime exige aos atores políticos, e neste caso em particular ao Partido Socialista, é possível caminhar no sentido de produzir um conjunto de reformas em Portugal. Não se edificam milhares de casas em 11 meses, não se moderniza a ferrovia em 11 meses, da mesma forma que não se reforma o Sistema de Ensino – na ação social e na qualidade da aprendizagem – em 11 meses, bem como não se constrói a infraestrutura para se resolver os riscos de seca no sul do País em 11 meses. Mas em quatro anos é possível fazer bastante e observar resultados. Esta geração merece a oportunidade de ver acontecer um pacote de políticas públicas que almejem solucionar os seus problemas e depois, no fim, aí sim, que o mesmo seja avaliado sobre a sua eficácia.

É possível continuar o caminho dos incentivos fiscais relacionados com prémios de desempenho e produtividade, bem como o próprio IRS Jovem. É possível ver obra a acontecer na ferrovia, nomeadamente no âmbito da Linha de Alta-Velocidade ou na modernização e aquisição de material circulante. É possível construir milhares de casas, desde a primeira habitação para jovens, como também residências universitárias. É possível fazer do Sistema de Ensino um verdadeiro elevador social, com uma ação social ampla, mas que não deixa ninguém para trás do ponto de vista da aprendizagem desde cedo. Um Sistema de Ensino que forme além dos conteúdos core: que fomente comportamentos saudáveis junto dos estudantes, desde as limitações do uso dos telemóveis e redes sociais em certos contextos escolares e faixas etárias, o estímulo à participação comunitária e da importância da mesma na vida de um individuo, até ao esclarecimento e apoio em áreas como a saúde mental e nutricional.

Hoje há muitas pessoas a vaticinar o que o povo, na rua, afinal quer. Eu também oiço o comentário de que é tudo igual e que devíamos dar oportunidade a outros que nunca lá estiveram e dizem umas verdades. Mas além disso oiço ainda que não podemos andar de eleições em eleições, que importa melhorar a vida das pessoas e que os políticos se devem entender para fazer avançar essas melhorias. Quem tem responsabilidades políticas – na governação e na oposição – que oiça também esta última parte, trabalhe nesse sentido e, com pedagogia e capacidade de comunicação, mostre o que se está a fazer.

Aos jovens, sejamos exigentes, mas também responsáveis. Possamos dar esta oportunidade geracional e no fim pedir a justa prestação de contas.