A União Europeia definiu o objectivo de atingir a neutralidade climática nos transportes marítimos até 2050, com cortes progressivos nas emissões. Jorge Antunes, fundador, CEO e director técnico da TecnoVeritas, considera que as metas não serão atingindas.

"Quem legisla, legisla cegamente. Qual é o problema? Estão e exigir impossíveis mesmo para os navios modernos, acabados de fazer. Não é que as pessoas não queiram, é simplesmente a impossibilidade técnica de fazer e de cumprir", justificou o doutorado em Tecnologia Marinha esta terça-feira, 20 de Maio, no âmbito da II Madeira Maritime Week, que decorre no Hotel Savoy Palace, na cidade do Funchal, criticando que "a regulamentação não está encaixada na realidade da indústria marítima".

Segundo o especialista com mais de 40 anos de experiência em engenharia marítima, a sociedade "está a consumir demasiada energia", pelo que importa "colocar em cima da mesa o uso de energia nuclear e de energia eólica".

Os navios, há cerca de 120 anos, eram o meio transporte mais ecológico que havia, andavam à vela. Depois veio o carvão, depois veio o fuel, porquê? porque queremos as coisas entregues mais rapidamente. A sociedade demanda velocidade, a velocidade demanda potência, demanda energia e isso só é fazível com ou energia nuclear para grandes navios, ou navios a vela ou híbridos, a vela e a motor. Jorge Antunes

Uma vez que os novos navios não são mais amigos do ambiente do que os antigos, uma vez que "a tecnologia continua a ser mesma há 40 anos atrás com motores diesel", Jorge Antunes defende que é preferível modernizar os navios existentes ao invés de descartá-los e comprar novas embarcações.

É melhor intervir e capacitar os navios para queimarem combustível reciclado ecológico, nomeadamente biocombustível. Isto, se o casco estiver bom, se o navio continuar operacional e funcional em termos de dimensões. É só estúpido deitar fora o navio, desfazê-lo, porque há o custo também das emissões de cortar o navio todo aos pedaços, fundir todo o material, todo o aço, para depois fazer de novo chapa. Agora, isto pode jogar contra lobbies e contra interesses, por exemplo, daqueles que querem construir navios novos. É lógico. Jorge Antunes

O responsável pela TecnoVeritas destaca o programa criado pelo Governo Português, através do Plano de Recuperação e Resiliência, denominado 'Navegação Ecológica' com vista a incentivar a aceleração da transição energética do transporte marítimo de mercadorias e passageiros, uma medida que permitiu realizar melhorias energéticas em 10 navios portugueses.

"Através deste programa, vamos conseguir reduzir mais de 75 mil toneladas de CO2, neste momento, mais de metade já lá vai, em navios convertidos e isto é uma boa novidade para o País. A meu ver, acho que é uma coisa excepcional", sublinha.

A TecnoVeritas, responsável pela descarbonização dos navios, procedeu "ao processamento em linha a bordo de biocombustível, feita a partir de óleos de cozinha usados, processados pela PRIO Ecowaste, bem como à digitalização do navio e à optimização dos sistemas a bordo".

Além da legislação, outro dos problemas que se coloca agora é a falta de verbas para proceder à descarbonização, alerta Jorge Antunes: "Dar o passa em frente só mesmo com fundos de apoio, a fundo perdido, por exemplo, neste programa da 'Navegação Ecológica' que o governo lançou são apoios 80% a fundo perdido, o que é uma brutalidade. De outra forma, as pessoas não faziam, porque isto são obras de vários milhões de euros em navios com bastante idade."