
Na cerimónia de lançamento da edição revista e actualizada do livro As Origens do Turismo na Madeira, da autoria do arquitecto Rui Campos Matos, João Welsh não poupou críticas à “falta de responsabilidade, há muitas décadas atrás, quando isto começou a acontecer, de não preservar a memória colectiva” e à consequente destruição do património madeirense.
“Resolvemos ser especialistas em destruir património”, afirmou Welsh, lamentando que, em vez de proteger o que nos define, “adoptámos uma lógica de rever planos para poder destruir aquilo que não devíamos destruir”. O economista sublinhou ainda o impacto negativo das influências externas, referindo que “temos quase um fascínio, não exactamente pela memória colectiva, mas um fascínio pelas Canárias e agora um fascínio ainda pior, que é pelo Dubai, e então queremos na Madeira revermos nessas modas que nada têm a ver com a nossa região”.
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Para Welsh, esta tendência “não é nada positiva” e contraria a lógica de desenvolvimento sustentável e enraizado que a Madeira deve seguir. “Poderíamos perfeitamente ter conseguido desenvolver a Madeira preservando o que marca e determina a nossa identidade”, explicou.
Na apresentação da obra, o economista destacou ainda a ligação íntima entre as quintas da Madeira, a economia regional e o turismo. “As quintas não se impuseram ao território, mas sim interpretaram correctamente o território tal como é, adaptando-se perfeitamente”, afirmou, acrescentando que esta relação simbiótica foi determinante para o turismo da região.
Welsh também enfatizou a importância da “micro-escala” do turismo madeirense, que privilegia “um turismo intimista de sucesso, de contemplação, de desfruto das paisagens, de tudo o que é bonito”, sublinhando que esta estratégia é essencial para a sustentabilidade a longo prazo do sector.
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Referindo-se ao autor Rui Campos Matos, realçou o seu trabalho rigoroso e apaixonado na documentação do património e da história das quintas, definindo o livro como “maravilhoso” e um “excelente registo fotográfico que traduz fielmente a realidade da Madeira”.
Para terminar, o economista fez um apelo à preservação do património: “Seria fundamental classificar todas as quintas como património e garantir que não destruímos mais. Esta obra é um lembrete do que fomos, do que somos e do que devemos preservar para que as próximas gerações possam continuar a valorizar a nossa identidade e história”, concretizou.