Na quarta-feira à noite foi colocada no site da Presidência da República uma nota indicando que Marcelo Rebelo de Sousa condecorou a ex-procuradora-geral da República Lucília Gago com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo, numa cerimónia que não foi divulgada à comunicação social.
Numa publicação na rede social X, Rui Rio partilhou a foto da condecoração, que junta o chefe de Estado e Lucília Gago, acompanhado de um texto crítico.
"As condecorações presidenciais dos 'ex-qualquer coisa' transformadas num ato administrativo que bem podia ser chancelado pelo chefe da secretaria. É um regresso ao passado. Lembro-me que era assim antes do 25 de Abril para parecer o que não é. São os superiores ditames da hipocrisia", considerou.
Rui Rio liderou o PSD entre 2018 e 2022 e é um dos subscritores do "Manifesto por uma Reforma da Justiça em Defesa do Estado de Direito Democrático".
Lucília Gago, de 68 anos, jubilou-se em 11 de outubro, no último dia do mandato de seis anos como procuradora-geral.
Tomou posse como PGR em 12 de outubro de 2018 e elegeu então como "uma das grandes prioridades" para o seu mandato "o combate à criminalidade económico-financeira, com particular enfoque para a corrupção", considerando que se tornou "um dos maiores flagelos suscetíveis de abalar os alicerces do Estado e corroer a confiança dos cidadãos no regime democrático".
O final de mandato de Lucília Gago ficou marcado pela divulgação da Operação Influencer, através de um comunicado cujo último parágrafo a informar que o então primeiro-ministro era também visado na investigação levou à queda do Governo, a uma crise política e eleições antecipadas, motivando críticas à atuação do Ministério Público, acusado de uma atuação politizada num caso em que António Costa não foi até ao momento constituído arguido.
A Operação Influencer levou no dia 07 de novembro de 2023 às detenções do chefe de gabinete de António Costa, Vítor Escária, do advogado e consultor Diogo Lacerda Machado, dos administradores da empresa Start Campus Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, e do presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas. São ainda arguidos o ex-ministro das Infraestruturas João Galamba, o ex-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, o advogado João Tiago Silveira e a Start Campus.
O processo foi entretanto separado em três inquéritos, relacionados com a construção de um centro de dados na zona industrial e logística de Sines pela sociedade Start Campus, a exploração de lítio em Montalegre e de Boticas (ambos distrito de Vila Real), e a produção de energia a partir de hidrogénio em Sines.
SMA (DMC/TA/JGO) // JPS
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