Não é raro encontrar-se Sofia Aparício nas manifestações pelos direitos humanos e nas redes sociais tem partilhado as longas temporadas nos destinos mais invulgares, distantes e variados do planeta. Sempre longe das grandes metrópoles da moda e dos sítios mais ‘instagramáveis’.
Sofia anda muitas vezes sozinha a desbravar lugarejos, cidades e países culturalmente distintos do seu, de chinelo no pé e roupas simples, a conhecer outras formas de viver neste mundo, misturando-se o mais que pode com as gentes locais.
Em particular com as que vivem de forma simples, e que com ela partilham as suas histórias do quotidiano, e riquezas humanas, gastronómicas e culturais.
Esta conversa em podcast começa por aqui mesmo. Por este prazer de ‘vagamundear’ a que Sofia dedica todo o tempo do ano que pode. “Poupo dinheiro quando trabalho e viajo quando estou desempregada (ou ‘entre trabalhos’).”
Sofia Aparício revela saber bem que o melhor das viagens são as pessoas desses lugares, só acessíveis a quem vê além do óbvio, e não vai apenas para ser a estrela de um postal ilustrado ou para viver o luxo da pulseirinha à beira da piscina, com bar aberto, numa bolha de turistas.
Na sua última viagem a São Tomé aprendeu a lavar roupa branca no rio ou a cozinhar algumas delícias locais. Em vários locais de Moçambique colaborou com a ONG Helpo a preparar kits com material escolar para serem entregues em várias escolas; e em Benin sentiu-se enfeitiçada pela dança mágica de vários Vudu, como o Edgungun.
E, com essas pessoas, é a forasteira que não se impõe, mais viajante do que turista. Apenas uma mulher anónima e serena, curiosa com os outros. E até bem mais sociável, do que no seu quotidiano em Lisboa.
Por vezes, Sofia assume o papel de guia de viagem, de grupos pequenos. E, com essa missão, foi recentemente ao Gana e ao Togo, no Golfo da Guiné, ou ao Iraque e à Turquia.
O passado de manequim bem sucedido parece perseguir-lhe como uma sombra no percurso de atriz que tem feito e nos papéis para que normalmente a escolhem, "o da quarentona sexy, apesar de ter 52 anos".
E aqui a atriz recorda a estreia nos palcos de teatro, em 97, a convite de Carlos Avillez para protagonizar a peça “A Dama das Camélias”, de Alexandre Dumas - e como demorou algum tempo até os colegas mais velhos a deixarem de olhar com preconceito.
Desde aí tem feito caminho no teatro, na televisão e cinema. E deixa perceber que gostaria de ser mais desafiada na representação, mas está em paz com isso e consigo.
“Acabo de ganhar um prémio numa curta metragem, mas não é um objetivo para mim, ser validada por prémios.”
Sofia Aparício avança que, se pudesse, vivia atualmente só a viajar, que é onde mais se encontra. “Não viajo para descansar, nem sempre regresso feliz, viajo para ganhar mundo.”
O seu próximo destino é o Burkina Faso e Mali, em África.
A atriz declara que não se sente insegura por viajar tantas vezes sozinha para países distantes e culturalmente machistas, e revela os desafios dessas próximas viagens.
“Não há nada que um homem faça que eu não possa fazer. Pior ou melhor, faço-o também.”
E sobre o que a move, declara: “O que mais quero é continuar a enfrentar a vida com leveza, coragem e ética, não cedendo às angústias provocadas pelo estado atual do Mundo.”
E mais diz neste podcast, sobre os desafios e polarizações destes tempos: "Nunca vou estar do lado do opressor. Tenha ele o dinheiro, o poder, seja a pessoa mais próxima da família. Nunca vou estar do lado do opressor. Vou estar sempre do lado do mais frágil.”
A segunda parte desta conversa fica disponível na manhã deste sábado.
Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de José Fernandes. E a sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro.
Boas escutas!