
Cerca de 15% dos adolescentes portugueses de 15 anos afirmam sentir-se nervosos ou ansiosos quando estão afastados dos seus dispositivos digitais, um indicador que já indicia uso problemático e que pode levar à dependência, de acordo com um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), divulgado esta quinta-feira, sobre “a vida das crianças na era digital”.
O resultado dos adolescentes portugueses sobre a forma como se sentem quando estão sem o telemóvel ou tablet está em linha com a média da OCDE. Na Turquia, República Checa e Polónia, os países onde há maior percentagem de uso problemático, o valor chega quase aos 30%, enquanto que a Coreia do Sul apresenta o valor mais baixo, com 10%.
Em média, nos países da OCDE, cerca de 70% das crianças de 10 anos já possuem um smartphone e aos 15 anos o acesso é praticamente universal: 98% têm este dispositivo e mais de metade passam pelo menos 30 horas por semana agarrados a ele. Redução do convívio presencial, diminuição da atividade física, exposição a conteúdos nocivos, abuso online e degradação da saúde mental estão entre os principais perigos.
Raparigas são mais afetadas
Segundo o relatório, considera-se que há uso problemático quando os utilizadores mostram sinais de privação, como ansiedade quando estão sem o dispositivo, e quando têm dificuldade em controlar o tempo online, sentindo-se compelidos a continuar mesmo quando isso interfere nas suas responsabilidades, por exemplo a nível de atividades escolares, ou no seu bem-estar.
O uso problemático pode conduzir a dependência, aumentando o risco de depressão, ansiedade, solidão, perturbações do sono e dificuldades escolares. As raparigas tendem a ser mais afetadas e fatores como a exposição a imagens idealizadas e a comparações permanentes, promovidas pelas redes sociais, aumentam ainda mais os riscos, tal como o ciberbullying.
Vários fatores pessoais e ambientais, como falta de atividade física, maus tratos, conflitos familiares ou mau estar psicológico, por exemplo, podem tornar as crianças e adolescentes mais vulneráveis ao uso problemático. Mas este, por sua vez, também influencia os outros fatores, agravando vulnerabilidades prévias.
Operadores têm de ser obrigados a proteger as crianças
Nesse sentido, a OCDE salienta que é preciso compreender melhor os fatores de risco e os fatores protetores relativamente ao uso problemático, reforçando a recolha de dados sobre o tempo de ecrã, as atividades digitais e os seus conteúdos e a avaliação dos impactos em crianças de todas as idades e investindo numa investigação mais aprofundada, nomeadamente com a realização de estudos longitudinais.
Esses dados são fundamentais para fornecer mais orientação aos pais, ajudando-os a tomar decisões relativamente ao tempo de ecrã, ao tipo de uso e ao envolvimento digital dos menores. Mas as famílias não podem ficar sozinhas com esta tarefa, sublinha a OCDE, salientando que os Governos têm necessariamente de traçar políticas públicas que deem prioridade à segurança infantil.
"Os Governos são responsáveis por estabelecer regulamentos e regras que obriguem os operadores a proteger as crianças e jovens no que toca à privacidade e ao combate à difusão de conteúdos inapropriados", insta a OCDE.
O relatório surge numa altura em que cada vez mais países estão a adotar restrições ou proibições ao uso de smartphones nas escolas. Em Portugal, o Governo recomendou no início deste ano letivo a proibição de telemóveis nos recreios até aos 12 anos, mas a maioria dos estabelecimentos de ensino ainda não limitou o uso.
Países Baixos, Finlândia, Reino Unido ou Brasil são alguns dos países que já avançaram com a proibição.