A chefe da diplomacia da União Europeia (UE) pediu esta terça-feira ao Conselho de Segurança da ONU a continuidade do apoio à Ucrânia, frisando que os “ucranianos não querem fazer parte da Rússia” e “merecem escolher o seu futuro”.

No briefing anual sobre a cooperação entre as Nações Unidas (ONU) e a UE, a alta representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Kaja Kallas, começou por destacar que, 80 anos após a criação da ONU, a ordem internacional baseada em regras está "sob forte ataque", referindo os conflitos em Gaza, Sudão, República Democrática do Congo, Myanmar, Haiti ou Ucrânia.

Apesar do destaque que deu ao conflito em solo europeu, Kaja Kallas defendeu que “esta não é uma guerra europeia, nem um conflito entre vizinhos, nem uma guerra por procuração”.

“A Europa aprendeu com sua própria história que ceder às exigências dos agressores leva a mais violência. Sejamos claros: a Rússia pode parar esta guerra a qualquer momento — mas escolheu não fazê-lo, apesar de todos os esforços até agora. Porque ela não atingiu seus objetivos de guerra”, disse.

“Os ucranianos não querem fazer parte da Rússia. Eles lutaram contra isso por três anos. Eles merecem escolher seu próprio futuro. E todos nós deveríamos apoiá-los”, apelou ainda.

Em outras ocasiões, o briefing anual sobre a cooperação entre a ONU e a UE seria apenas um evento de rotina do Conselho de Segurança, mas este ano ganhou uma nova relevância devido à mudança abrupta de direção tomada pelos Estados Unidos em relação à guerra na Ucrânia e sua reaproximação com a Rússia.

Sem mencionar os Estados Unidos ou seu Presidente, Donald Trump, ou as negociações em andamento na Arábia Saudita entre Washington e Kiev, Kallas enfatizou a responsabilidade de Moscovo nesta guerra e destacou que a “Ucrânia é um Estado soberano de 40 milhões de pessoas que lutou por três anos para sobreviver e manter a sua independência”.

O longo discurso de Kallas também se concentrou em lembrar que a UE e os seus Estados-membros são os principais contribuintes financeiros para o sistema da ONU “ano após ano”, financiando um quarto do orçamento regular da ONU, um terço de todas as suas agências e programas e um quinto de todas as operações de manutenção da paz.

Em relação à guerra Gaza, Kallas pediu o levantamento de “todos os obstáculos à ajuda humanitária em larga escala”, enquanto Israel vem bloqueando a entrada de auxílio no território palestiniano desde 2 de março.

“É imperativo que a ajuda humanitária não seja politizada ou condicional”, insistiu.

“Deixem-me dizer também que a UE rejeita firmemente qualquer tentativa de mudanças demográficas ou territoriais. Em Gaza. Em outras partes do mundo. Em qualquer lugar”, reforçou ainda, defendendo a solução de dois Estados como o “único caminho que levará paz e segurança sustentáveis ao Médio Oriente”.

Após o discurso de Kallas, a embaixadora interina dos Estados Unidos, Dorothy Shea, reconheceu que o maior desafio de segurança da Europa é a guerra na Ucrânia e garantiu que Donald Trump está comprometido em acabar com a guerra e “alcançar uma paz duradoura”.

Para cumprir esse objetivo, os Estados Unidos estão a contar com a Europa e a União Europeia para “ajudar a facilitar e ajudar a subscrever essa paz”, admitiu a diplomata, insistindo que a “Europa deve ser forte, resiliente e autossuficiente”.

“Uma vez alcançada uma paz duradoura, será mais urgente do que nunca para a UE e seus Estados-Membros desempenhar um papel fundamental no fornecimento de garantias de segurança. A Europa deve ser forte, resiliente e autossuficiente para garantir não apenas a paz e a segurança na Europa, mas para ser um verdadeiro parceiro na garantia da paz e da segurança internacionais”, disse a representante de Washington.

Dorothy Shea reconheceu ainda o “papel importante dos países europeus em acolher milhões de refugiados ucranianos e liderar as contribuições que eles farão para a reconstrução e segurança pós-guerra da Ucrânia”.

O Conselho de Segurança realiza briefings anuais sobre a cooperação UE-ONU desde 2010, exceto nos anos de 2012 e 2018. Esta prática está em linha com os esforços do Conselho para fortalecer a cooperação com organizações regionais e sub-regionais, conforme previsto na Carta da ONU.