O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, respondeu esta quarta-feira às críticas feitas pelo seu homólogo norte-americano por se opor ao reconhecimento da península da Crimeia como território russo, recordando a oposição à anexação pela anterior Administração de Donald Trump.

"A Ucrânia agirá sempre de acordo com a sua Constituição, e estamos plenamente confiantes de que os nossos parceiros, e em particular os Estados Unidos, agirão de acordo com as suas decisões sólidas", escreveu Zelensky no Telegram.

A mensagem foi divulgada acompanhada por uma ligação a uma declaração feita em 2018 pelo então secretário de Estado Mike Pompeo, um dos antigos subordinados de Trump no primeiro mandato (2017-2021) com quem este rompeu relações.

A declaração refere que "nenhum país pode mudar as fronteiras de outro pela força".

O texto do Departamento de Estado diz ainda que os Estados Unidos se recusam a reconhecer as reivindicações de soberania do Kremlin sobre territórios conquistados em violação do direito internacional.

Segundo o canal norte-americano CNN, que cita uma fonte diplomática, a proposta norte-americana que causou o impasse nas negociações inclui o reconhecimento da anexação da Rússia sobre a Crimeia, a par de um cessar-fogo ao longo das linhas de frente da guerra.

Qualquer iniciativa no sentido de reconhecer o controlo da Crimeia pela Rússia inverteria uma década de política norte-americana.

Na terça-feira, antes das conversações que estão a decorrer em Londres com representantes norte-americanos, europeus e ucranianos, Zelensky excluiu qualquer cedência de território ucraniano à Rússia num acordo.

"Não há nada para falar - é a nossa terra, a terra do povo ucraniano", afirmou Zelensky.

Trump criticou esta declaração", que considerou "muito prejudicial para as negociações de paz com Rússia".

"Declarações inflamadas como a de Zelensky" estão a dificultar a resolução da guerra, afirmou.
"A situação da Ucrânia é terrível - [Zelensky] pode ter paz ou pode lutar por mais três anos antes de perder o país todo", escreveu Trump.

Os comentários foram feitos na sequência da redução do nível da próxima reunião em Londres sobre o conflito, com a ausência do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio.

A porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce, disse que Rubio já não iria participar nas discussões com funcionários ucranianos, britânicos e europeus devido a "questões logísticas".

Citados pela CNN, um responsável norte-americano e dois diplomatas europeus próximos das negociações afirmaram que Rubio estará ausente pois a administração não sentiu estar num ponto decisivo nas conversações em curso.

Fazendo exo de anteriores ultimatos de Rubio, o vice-presidente norte-americano, JD Vance, ameaçou abandonar as negociações, dizendo aos jornalistas durante uma visita à Índia que foi feita "uma proposta muito explícita aos russos e aos ucranianos e é altura de eles dizerem sim ou de os EUA abandonarem este processo".

"Envolvemo-nos numa quantidade extraordinária de diplomacia, de trabalho no terreno", adiantou.

Rubio será substituído na reunião de Londres pelo enviado especial do Presidente Donald Trump para a Ucrânia e a Rússia, Keith Kellogg, adiantou o Departamento de Estado.

Paralelamente, segundo um responsável norte-americano citado pela CNN, o enviado especial Steve Witkoff deverá reunir-se com o Presidente russo Vladimir Putin na Rússia na sexta-feira.

A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991 - após a desagregação da antiga União Soviética - e que tem vindo a afastar-se do espaço de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.