
André Reis entregou esta quarta-feira, na sede da Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF), em Gondomar, no Porto, a sua lista de candidatura aos órgãos sociais do organismo para as eleições marcadas para 31 de maio. Após o ato, o técnico, de 37 anos, esteve à conversa com os jornalistas, onde explicou as motivações para a sua candidatura, apresentou algumas das propostas que constam no seu programa eleitoral e deixou igualmente alguns reparos à lista adversária, encabeçada por Henrique Calisto.
Motivações da candidatura: "Inicialmente, enquanto grupo de amigos, analisámos as possibilidades de entrar em cursos UEFA A e UEFA Pro e percebemos que as vagas eram muito limitadas em Portugal e que, mesmo quando abrem vagas, os critérios são muito restritivos. É muito difícil para pessoas com imensos anos ao mais alto nível ou que estejam ao mais alto nível, como por exemplo o caso do João Pereira, do Casa Pia, que concorreu e não conseguiu entrar. Decidimos que estava na hora da ANTF ter uma palavra a dizer não só para o alargamento das vagas, mas também dos cursos. Entendemos que a própria ANTF devia estar capacitada para lecionar diretamente e sem depender da FPF para os cursos UEFA A e UEFA Pro. Uma coisa é confiar na boa vontade de outra instituição, algo diferente é podermos fazer algo em prol da nossa classe profissional e termos autonomamente esses cursos à disposição, que não só cria novos cursos, cria mais vagas, aproximando-nos das vagas que existem noutros países europeus."
Modernização e voto descentralizado: "Com todo o respeito pelo presidente José Pereira, que fez um excelente trabalho e o melhor que podia em prol da classe profissional, entendemos que a instituição está um pouco estagnada e parada no tempo, precisa de uma modernização tanto ao nível dos corpos dirigentes, como em termos gerais. Os estatutos precisam de ser revistos. Para nós, não faz grande sentido que seja obrigatório vir ao Porto votar. Havendo núcleos, poderia haver uma votação descentralizada nos núcleos. Temos também a proposta de criar as bases para o voto eletrónico. Isto porque, por exemplo, no dia 31 de maio, treinadores como Abel Ferreira, Pepa, Jorge Jesus muito possivelmente não poderão votar, porque ainda estão em pleno campeonato e não se poderão deslocar ao Porto para o fazer."
Diferenças face à outra candidatura: "Logo de raiz, pela própria composição das listas, vemos de um lado uma lista, com todo o respeito pelos candidatos, composta maioritariamente por pessoas que já fazem parte da estrutura há vários anos, que já tiveram durante vários anos a possibilidade de fazer alguma coisa para que a ANTF não estivesse estagnada e não o fizeram. Portanto, se olharmos de forma pragmática para isso, temos de nos questionar que 'se não fizeram até agora, porque vão fazer agora?'. O que nos distingue é claramente sangue novo e propostas com soluções, o que não se vê do lado de lá."
Soluções para os técnicos sem o nível exigido: "Abordamos também as questões do Rúben Amorim, Moreno, João Pereira, Silas, entre outros, porque está na atualidade, mas apresentamos duas soluções claras, que até são complementares. Uma delas é a alteração do regulamento da competição, passando a prever que as equipas técnicas devem ter pelo menos um elemento nível IV, não obrigando a que seja o treinador principal. A outra solução, complementar a esta, passa por um acordo multilateral entre o treinador, a tutela da competição e a tutela da formação, em que o treinador fica obrigado a concorrer ao próximo curso conferente de grau que abrir, a tutela da formação garante uma vaga supranumerária ao treinador e a tutela da formação garante que o treinador, enquanto esse curso não abrir, pode usufruir de plenos direito de treinador na competição em causa. Se por acaso for despedido ou deixar de exercer nessa competição ou não frequentar o curso por culpa própria, perde o direito de voltar a utilizar esta norma de exceção, evitando abusos. São medidas que têm de ser discutidas com a FPF e a UEFA, mas estamos confiantes que, face ao novo paradigma do futebol nacional, é possível ter essas conversações."
Maior falha que aponta à candidatura adversária? "Penso que quando alguém se propõe a ser presidente de uma associação deve declarar claramente ao que vem. Não é por ter sido o primeiro presidente e querer voltar a sê-lo que se deve candidatar. A verdade é que, em termos de propostas, pouco ou nada se sabe sobre aquilo que Henrique Calisto pretende apresentar aos associados. Essa é uma grande falha. Nós tivemos o cuidado de preparar primeiro o programa eleitoral e só depois é que começamos a falar com grupos de treinadores, precisamente para termos algo para mostrar e dizer que é isto que nos move. Depois, quando Henrique Calisto anuncia que se vai candidatar e que não é uma candidatura de continuidade, isso é diretamente contraditório com a composição da lista. Mais vale assumir que é uma lista de continuidade e ir à luta, salvo seja, nesses termos."
Ser um nome menos conhecido é uma desvantagem? "Não sinto como desvantagem, mas sim o oposto. O Henrique Calisto, em função da carreira que teve como treinador, estará sempre sujeito a um escrutínio maior daquilo que faz e daquilo que apresenta, do que eu. Para todos os efeitos, Henrique Calisto já foi presidente da ANTF, já teve uma oportunidade de fazer, sendo certo que foi um dos fatores, mas em função da personalidade que é o Henrique Calisto, acredito que estará sempre mais sujeito a esse escrutínio por parte dos associados. De resto, encaro como uma vantagem, precisamente por não estar ligado aos órgãos sociais dos últimos anos e de não ter pessoas, na minha candidatura, que pertenceram aos órgãos sociais nos últimos anos, apesar de haver pessoas que já estiveram ligadas à ANTF. Não temos nenhum candidato ligado aos anos mais recentes em que achamos que devia ter sido feito mais, portanto estamos completamente livres para falar do que poderia ter sido feito e do que queremos implementar. Penso que temos toda a credibilidade para o fazer, porque ninguém pode dizer que já tivemos oportunidade para o fazer e não fizemos."
Apoios e composição da lista: "Prefiro que os associados votem em mim pelo meu programa, do que por ter este ou aquele treinador a apoiar ou na lista. Aliás, a abordagem que fiz na composição da lista não foi tão mediática quanto isso. Há dois ou três treinadores mais conhecidos, mas apostei sobretudo na diversidade. Em ter mulheres - nós temos cinco, a outra candidatura tem duas - que trazem outro ponto de vista da profissão de treinador atualmente. Temos cinco mulheres altamente competentes, com provas dadas, três na direção, uma na Mesa da Assembleia Geral e outra no Conselho Fiscal, em todos os órgãos. A aposta foi em diversificar, ter candidatos de praticamente todo o país, de todas as áreas que a ANTF suporta - futebol, futebol feminino, futebol de praia, futebol amador, futebol profissional, futsal e futsal feminina. Podemos dizer que temos candidatos de todas as áreas a quem a ANTF deve dar resposta. Além de candidatos de nove associações regionais diferentes, incluindo Açores e Madeira."
Confiante? "Se não estivesse confiante não tinha entregue a lista hoje."