Milão em mudanças, mas sempre com pronúncia portuguesa. No penúltimo dia de 2024, o Milan começar uma nova era: Paulo Fonseca foi despedido e o novo homem do leme foi um rosto bem conhecido do futebol português: Sérgio Conceição, no primeiro desafio após sete anos de FC Porto.
Alterações significativas num dos maiores clubes do mundo, com Portugal nas entrelinhas. Motivo mais que suficiente para o zerozero interessar-se e procurar saber mais sobre o sucedido. Por isso, fomos perceber de que forma é que os adeptos Rossoneri encararam esta substituição lusa.
Falámos, por isso, com Antonello Gioia, jornalista italiano do Corriere dello Sport, especializado em assuntos relacionados com o clube rubro negro da cidade da moda. As reações sentidas, os desafios para ultrapassar e os desejos para o futuro.
Paulo Fonseca: o ex sem química
Antes de virarmos o foco para Sérgio Conceição - o elemento principal desta peça -, importa conhecer o que correu mal com o ex-treinador. Segundo o jornalista, dos resultados ao grupo, Milan & Paulo Fonseca foi para esquecer.
«Primeiro, nunca teve continuidade de resultados - só uma vez conseguiu mais de duas vitórias consecutivas. Depois, nunca encontrou a química certa com o grupo, o que tornou o cenário insustentável. Ficou entendido para todos que, com ele, o Milan não ia muito longe», revelou Antonello.
«Para formar uma equipa vencedora não são precisos apenas jogadores bons. Também é necessário ter um treinador capaz de valorizá-los, que saiba gerir homens e orientar todo o grupo. O Milan, até agora, não demonstrou ter essas características. Além disso, mesmo os jogadores mais fortes - como o Rafael Leão e o Theo Hernández, por exemplo -, em vários momentos da época, não se mostraram à altura», continuou.
Uma passagem rápida e desejada
O 11º lugar na Liga dos Campeões não é descabido, mas o oitavo lugar na Serie A - a 14 pontos da liderança, foi inadmissível para os responsáveis do Milan e fatal para Paulo Fonseca, que durou pouco mais de seis meses à frente do clube.
Dia 30 de dezembro: um despedimento de manhã e uma contratação de tarde. A operação foi feita de forma célere, como exigiam os adeptos. Apesar de não ser pretendido por todos, o português está, aos poucos, a tratar de os convencer.
«Os adeptos queriam, sobretudo, a demissão de Paulo Fonseca, mais do que pensar em sucessores. A chegada de Sérgio Conceição foi recebida positivamente, embora muitos preferissem um treinador italiano, como Massimiliano Allegri ou Maurizio Sarri. Ainda assim, Conceição, com as primeiras entrevistas, já convenceu muitos», salientou Antonello.
A preferência por outros treinadores pode, eventualmente, estar relacionada com o facto de Conceição já ter representado o outro grande de Milão, o Inter, eterno rival do Milan. Para Gioia, o interruptor da rivalidade deve ser desligado por agora - para o treinador e adeptos - e o foco deve virar, exclusivamente, para o clube rubro negro.
«A cidade é particular. Milan e Inter têm uma influência muito grande e o clássico é importante, claro, mas é menos fervoroso que em outras cidades, como Roma, por exemplo. O que o Milan deve fazer é pensar em si, sem olhar para o eterno rival: o Inter está muito longe, em termos qualitativos e estrututurais - atualmente», notou.
Trabalho no presente; o futuro logo se vê
Contratado, apresentado... e ao trabalho! A época vai a meio, o cenário não é favorável e, esta sexta-feira, já está em causa a permanência numa competição - e, quiçá, a presença garantida numa primeira final.
A Supercoppa é importante, mas uma derrota frente à Juventus, independentemente da fase dos Rossoneri, não seria propriamente chocante. Por isso, Antonello Gioia, focou-se na principal competição, onde Conceição tem de apostar todas as fichas e reverter a situação: o campeonato.
«Para mim, no papel, o Milan pode lutar pelo Scudetto. Não acho que seja inferior às outras equipas. Por isso, o maior desafio será demonstrar essa força em campo. A oitava posição não é o lugar do Milan; tem de subir imediatamente», apontou o jornalista de Milão.
Para dificultar a tarefa de Conceição, que só de si não seria fácil, esta edição do campeonato italiano está ao rubro: Napoli, Atalanta e Inter ocupam o pódio, apenas distanciados por um ponto; a Lazio - a fazer uma das melhores épocas dos últimos tempos - aparece em quarto e Fiorentina e Juventus - ainda invencível na prova - vêm atrás, "apenas" a nove pontos do líder.
A competitividade de 24/25 traz à tona algumas fragilidades que já existiam do passado, segundo Antonello: «No ano passado, o Milan terminou em segundo lugar. Houve muitos problemas, mas poucos rivais. Este ano, há muitos problemas e muitos rivais: o nível tem, obrigatoriamente, de ser mais elevado.»
Em tom de conclusão, o jornalista revelou-nos um desejo: «No verão, eu teria logo trazido o Sérgio Conceição para treinar o Milan.»
Aconteceu pouco mais de seis meses depois, mas ainda vai a tempo de «correr bem», duas palavras que podem ter várias interpretações: «Não sei, logicamente, se ele vai vencer, mas vai, com certeza, consertar as coisas, o que já é um primeiro passo muito importante. Acredito que tem as características e ideias corretas para acertar com esta equipa.»
19h, em Riyadh, diante da Juventus: a estreia de Sérgio Conceição no comando do Milan é já esta sexta-feira.