A polémica continua a pairar nos Jogos Olímpicos. O torneio olímpico de boxe feminino está a abalar o mundo depois de duas pugilistas, a argelina Imane Khelif, na categoria -66 kg e a taiwanesa Lin Yu-ting, -57 kg, estarem em competição apesar de terem sido excluídas do Mundial da modalidade, em que reprovaram num teste de determinação de género.

Um tema muito complexo que tem despoletado várias opiniões e que tem sido abordado não só por personalidades ligadas ao desporto, como também da política. Mas afinal o que está em causa?

"Não é justo"

Na quinta-feira, a atleta italiana Angela Carini decidiu abandonar o combate, em lágrimas, aos 46 segundos, frente à argelina Imane Khelif, que apresenta níveis de testosterona superiores à média.

Carini, de 25 anos, sofreu o primeiro golpe de Khelif e terá fraturado o nariz. Face ao sucedido, os juízes decidiram dar o combate por terminado.

Quando Imane Khelif foi declarada vencedora, Angela Carini ajoelhou-se ainda no ringue, a chorar compulsivamente, ao mesmo tempo que afirmava: “Não é justo”.

John Locher // AP

O Comité Olímpico Internacional (COI), que validou a participação da argelina de 25 anos, bem como a de Lin, já veio publicamente apoiar as duas atletas olímpicas.

"Imane Khelif nasceu mulher, está registada como mulher, vive a sua vida como mulher, luta boxe como mulher”, insistiu o porta-voz do COI, Mark Adams, esta sexta-feira, acrescentando que este "não é um caso de transgénero”.

Porquê as anteriores exclusões?

Segundo a Federação Internacional de Boxe (IBA), as duas pugilistas foram excluídas após testes de “elegibilidade” para estabelecer o seu género, realizados nos Mundiais de 2022, em Istambul, e de 2023, em Nova Deli.

A IBA não especificou a natureza e os detalhes desses testes. Apenas refutou a explicação do COI que apresentava no seu site um “alto nível de testosterona” para Khelif.

“As mulheres podem ter um nível de testosterona igual ao dos homens, embora ainda sejam mulheres”, lembrou o COI.

Esta hormona é produzida tanto por homens como por mulheres, mesmo que a quantidade seja diferente. Quando os níveis estão acima da média, é possível falar em casos de hiperandroginismo.

O caso mais conhecido é o da atleta sul-africana Caster Semenya. A bicampeã olímpica dos 800 metros em 2012 e 2016 está afastada da competição devido aos altos níveis de testosterona.

Recusa receber tratamento para reduzir os níveis, conforme exigido pela Federação Internacional de Atletismo, e desde então tem travado uma longa batalha legal.

Caster Semenya
Caster Semenya FREDERICK FLORIN

O que as outras atletas estão a dizer sobre o assunto?

A irlandesa Amy Broadhurst, que vence Khelif em 2022, usou as redes sociais para prestar o apoio e solidariedade à colega de profissão. “Não é algo que ela possa controlar. O facto de ter sido derrotada por nove adversárias diz tudo”, apontou Broadhurst, antes de pedir para “acabarem com o assédio” à argelina.

Angela Carini, que desistiu do combate na quinta-feira, disse estar “entristecida” com a polémica e lamenta por tudo o que a adversária está a passar.

A húngara Anna Luca Hamori, que enfrentará Khelif este sábado, defendeu a participação da argelina.

“Se a deixaram competir é porque sabem que ela é mulher”, disse ela à agência de notícias húngara MTI. O Comitê Olímpico Húngaro, solicitou no entanto, explicações ao COI para “esclarecer a situação”.

A bicampeã olímpica britânica Nicola Adams, pelo contrário, expressou a sua desaprovação em “desistir dos sonhos olímpicos”.

Qual é o impacto da guerra entre entidades?

O Comité Olímpico Internacional (COI) e a Federação Internacional de Boxe (IBA) adotaram posições diferentes sobre este assunto. Num contexto de conflitos profundos e duradouros, especialmente devido a repetidos escândalos de arbitragem. A IBA, presidida pelo russo Umar Kremlev, perdeu a organização dos torneios olímpicos em junho de 2023.

Questionado sobre a presença do boxe nas Olimpíadas de Los Angeles em 2028, o porta-voz do COI, Mark Adams, disse esta sexta-feira que espera "sinceramente que aquele desporto esteja no programa".


Com LUSA