«Dérbi é dérbi e vice-versa», disse um dia Mário Jardel sobre os duelos entre os grandes rivais de Lisboa. Realmente qualquer que seja a classificação, o dérbi alfacinha vive-se sempre de um modo diferente e especial. E então se ocorre nas atuais circunstâncias — nas duas equipas já houve três mudanças de treinador desde meados de setembro (!) tendo Rui Borges chegado três dias antes a Alvalade… — o desfecho, independentemente da maior confiança encarnada e da pressão colocada sobre a equipa da casa que surgirá sob efeito de um abanão psicológico, é difícil de prever. Ora uma análise sobre os golos marcados e sofridos na Liga pelas duas equipas pode ajudar a entender melhor o seu comportamento mesmo com as alterações de comando técnico ocorridas.
Se os leões não têm beneficiado do período de compensação, já o Benfica conquistou um ponto para lá dos 90’ (Marcos Leonardo empatou aos 90+7’ em Moreira de Cónegos) mas perdeu dois nas Aves aos 90+4’ (golo de Devenish para o 1-1). Na Luz mora a equipa que mais reviravoltas conseguiu: três, diante de Santa Clara e Gil Vicente (casa) e Farense (fora). Já o Sporting só em Braga deu a volta passando do 0-2 ao intervalo para o 4-2 final no último jogo com Amorim ao leme.
Um aspeto que transparece desta análise é a dificuldade leonina para marcar de cabeça — só o baixinho Pedro Gonçalves marcou uma vez e todos os 18 golos de Gyokeres foram obtidos com o pé — contra oito golos das águias, destacando-se os insuspeitos Florentino e Akturkoglu, com dois golos cada.
Nenhum jogador das duas equipas marcou através de livre direto ou indireto — e o Sporting até precisou de um autogolo do central farense Lucas Áfrico para ter sucesso neste tipo de lances! — mas os encarnados são quem mais marca na Liga na sequência de pontapés de canto (5). Ao contrário do rival, o Sporting fez mais golos com remates de fora da área (6) do que na pequena área (4) — o oposto do que fez na época anterior em que a comparação foi de 25 contra três golos de longa distância!
Os leões privilegiam os lances de contra-ataque a partir dos quais apontaram, em percentagem, o dobro de golos do rival. Já quanto ao poder de fogo dos defesas mostram carências — só Gonçalo Inácio marcou uma vez — enquanto o setor recuado benfiquista já faturou em quatro ocasiões: Carreras (duas vezes) e ainda António Silva e Otamendi.
Os suplentes das águias têm trazido mais impacto ao jogo (nove golos vindos do banco), com Amdouni a ser a maior arma-secreta do campeonato (obteve como suplente quatro dos cinco golos que leva), com os leões a fazerem cinco tendo Conrad Harder bisado na cidade dos Arcebispos.
Apesar do ocaso recente (um golo de bola corrida nas últimas cinco jornadas), Gyokeres já marcou 18 vezes e sozinho fez mais do que 11 ataques da Liga! Já os encarnados, sem cão (um goleador de referência) caçam com gato, ou seja, os extremos Akturkoglu e Di María são os melhores marcadores (6) com Pavlidis a apontar só quatro golos, mesmo presente em todas as 15 jornadas.
Nos golos sofridos as equipas mostram-se quase intransponíveis nas bolas paradas, com exceções que vieram a ser dolorosas: o Sporting sofreu um golo de livre indireto e outro de lançamento de linha lateral (executado por um jogador seu!) na reviravolta consentida diante do Moreirense e o Benfica cedeu o empate nas Aves de livre indireto.