Por momentos pareceu estar no plano dos deuses, e os adeptos do Borussia Dortmund certamente entreteram essa possibilidade, mas o sonho foi fugaz e o Barcelona conseguiu, mesmo derrotado esta terça-feira (3-1), assegurar a continuidade da sua campanha nesta Liga dos Campeões.

A equipa da casa alimentou-se da yellow wall (e vice-versa) num brilhante arranque de jogo, a segunda parte ainda duplicou a esperança, mas o tento visitante - autogolo - chegou no momento certo, como um duro lembrete do 4-0 que se verificou na primeira mão. Para a história fica a passagem dos catalães, naturalmente, mas a reação alemã, que incluiu três golos e outros dois invalidados, merece o devido destaque...

O Barcelona está nas meias e esperam pelo vencedor da eliminatória entre Internazionale e Bayern.

Desconstruir o impossível

Ninguém quer chegar a uma segunda mão com quatro golos de desvantagem. O realismo, paralisante, cola-nos ao chão e faz-nos questionar até a necessidade de mais 90 minutos entre duas equipas que já se provaram distantes na qualidade. Ao mesmo tempo, o profissionalismo (e esse ninguém negará...) obriga a equipa perdedora a desconstruir o suposto impossível e a erguer nesse lugar a crença em algo histórico.

Foi isso que vimos nos minutos iniciais do jogo, nos quais o Borussia Dortmund tentou erradicar por completo a ideia de que alguma vez foi inferior a este adversário. Mais do que superior, foi totalmente avassalador e criou - só nos primeiros 10 minutos - chances suficientes para colocar a eliminatória em disputa. Szczesny começou desde logo a colocar-se em evidência, mas cometeu falta sobre Gross e Guirassy fez, de penálti, o 1-0.

Belíssimo jogo do Borussia Dortmund @Getty /

Com o estádio em erupção, o Dortmund ainda colocou a bola dentro da baliza por uma segunda vez. Marcou Pascal Gross, mas foi imediatamente assinalado fora de jogo. Foi o primeiro de dois tentos invalidados à equipa da casa, mas o importante estava já feito: os adeptos acreditavam.

Para ajudar ainda mais nesse sentido, Beier e Adeyemi continuaram a acumular remates, mas o guarda-redes do Barcelona, quiçá bom de mais para ter começado a temporada na praia, continuou a resolver. As redes só voltaram a mexer no segundo tempo, que foi ainda mais rico em emoção que o primeiro.

Os sentimentos confusos de Guirassy

A segunda parte começou de uma forma tão inspirada como a primeira. Talvez mais até, já que o golo esteve perto de surgir logo no primeiro lance e no segundo, aos 49 minutos, já víamos Guirassy a celebrar o bis com uma cabeçada para golo. Raphinha, que ainda tentou defender com as mãos, viu-se igualado no topo da tabela de melhores marcadores pelo seu antigo colega do Rennes.

Esse segundo golo surgiu na sequência de um canto e teve mérito de Ramy Bensebaini na assistência, mas o defesa argelino, bipolar, deitou tudo a perder cinco minutos depois ao colocar a bola dentro da própria baliza. Esse autogolo, único que passou pelas mãos de Kobel, tirou ânimo a equipa e adeptos em igual medida.

Os blaugrana voltavam a ter os pés nas meias, mas havia um certo ponta de lança que teimava em adiar qualquer certeza. Não falamos de Lewandowski, sempre assobiado neste regresso a uma antiga casa, mas de Serhou Guirassy, que ainda aproveitou uma boa jogada de Duranville (e uma oferta de Ronald Araújo) para fazer o hat-trick e se despedir da Champions como melhor marcador.

A dois golos de distância no agregado e com pouco mais de um quarto de hora para jogar, os alemães voltaram a acreditar. Julian Brandt ajudou nessa senda ao fazer o 4-1 (4-5 no agregado), mas esse tento acabou por ser anulado.

No fim, apesar de todas as dúvidas, nada mudou. O Barcelona segue em frente e a justiça disso, embora inquestionável, deve-se principalmente ao 4-0 da primeira mão. Já o Dortmund cai, mas com muita honra.