Las Vegas é um cenário pitoresco o suficiente para que o Grande Prémio realizado na cidade norte-americana seja visualmente distinto de todos os outros. Porém, a marca identitária, vincada pelos néons dos edifícios circundantes, serve apenas de adorno a uma corrida com pouca história na Fórmula 1. Só em 2023 é que o Las Vegas Strip Circuit integrou pela primeira vez o calendário. Mal sabiam os promotores, ocupados em rechear o fim de semana com luxuosos eventos paralelos, que a aura do local seria, um ano mais tarde, reforçada graças ao título ali conquistado por Max Verstappen.
Aos 27 anos, o neerlandês alcançou o quarto Mundial de Fórmula 1 seguido, igualando o número de campeonatos de Alain Prost e Sebastian Vettel. O piloto que detém o recorde de mais corridas ganhas de forma consecutiva aproximou-se dos sete títulos vencidos por Lewis Hamilton e Michael Schumacher.
2024 foi o ano menos contundente de Verstappen desde que ganhou o primeiro campeonato, em 2021. Aliás, foi fechando o GP de Las Vegas em quinto lugar que a conquista ficou confirmada. Depois das 19 vitórias em 2023, o número um da Red Bull confirmou o logro apenas com oito triunfos (embora estejam duas corridas por disputar), o registo pessoal mais baixo das últimas quatro épocas.
Norris, o osso duro de roer
A corrente de ar a soprar entre 2023 e 2024 fez um zéfiro de glória rodear Max Verstappen. Com a veia vitoriosa ainda latente, a temporada começou com sete vitórias em 10 corridas, a última das quais em Barcelona. De junho para cá, voltou a ganhar apenas por uma vez, naquela que mentalmente foi a machadada final.
Em São Paulo, uma má qualificação e uma penalização de cinco lugares na grelha de partida por ter alterado o motor do RB20 levou Verstappen a arrancar apenas da 15.ª posição. Aquilo que parecia uma catástrofe trouxe ao de cima o instinto feroz de alguém que, mesmo vendo as luzes apagarem-se bastante ao longe, conseguiu vencer a corrida.
A moral de Lando Norris ficou enterrada junto do núcleo da Terra e Verstappen tinha à disposição o primeiro championship-point. Com o quinto lugar do neerlandês em Las Vegas e o sexto do britânico, os dois corredores mais bem posicionados do campeonato saíram da corrida norte-americana separados por 63 pontos, a apólice de mais um título para Verstappen.
“O Max simplesmente não tem fraquezas”, lamentou Norris. O britânico entregou os louros ao rival, admitindo que este “mereceu” ganhar. “Quando tem o melhor carro, ele domina. Quando não tem o melhor carro, mesmo assim, ele está sempre lá para te dificultar a vida.”
A relação entre os dois passou por momentos dramáticos durante o ano. No GP da Áustria, em junho, Verstappen e Norris discutiam a liderança palmo a palmo. A proximidade motivou o contacto entre os monolugares, levando ao abandono do piloto da McLaren. Verstappen continuou em pista e, tal como aconteceu nos momentos cruciais, capitalizou o deslize do rival.
Guerra civil
Antes de ser visível que a McLaren podia criar alguns solavancos naquilo que parecia ser outro passeio para Verstappen, a própria Red Bull foi disparando contra os próprios pés. Christian Horner, o chefe de equipa, começou o ano a ser investigado devido ao alegado “comportamento inapropriado” para com uma mulher pertencente ao staff da Red Bull. A situação destapou algumas inimizades.
Jos Verstappen, o pai de Max, disse que o caso Horner “estava a afastar as pessoas”. Por outro lado, chegou também a ser ponderada a suspensão de Helmut Marko do cargo de conselheiro da Red Bull por este supostamente estar a transmitir ao exterior provas de que Horner teria efetivamente maltratado uma pessoa da equipa (após uma investigação independente, o chefe de equipa acabou por ser ilibado). As duas situações têm uma coisa em comum: em ambas, Max Verstappen posicionou-se do lado oposto ao de Christian Horner.
Começou-se então a cogitar sobre o futuro do piloto, especialmente porque a saída de Lewis Hamilton da Mercedes no próximo ano ia libertar uma vaga interessante – entretanto ocupada por Kimi Antonelli – para qualquer piloto em busca de novos ares. A verdade é que, enquanto surgiam rumores sobre Max Verstappen, elementos relevantes dentro da estrutura da Red Bull começaram efetivamente a abandonar o barco. Adrian Newey, diretor técnico considerado uma peça-chave no sucesso recente da equipa, vai começar a trabalhar na Aston Martin em 2025. Também Jonathan Wheatley, diretor desportivo, se vai tornar chefe de equipa da Audi.
Quando o castelo de cartas parece estar a desmoronar-se, é o homem do volante que sempre prevalece. Max Verstappen continuará na Red Bull na próxima temporada – tem contrato até 2028 – e não será fácil construir uma barragem que interrompa a maré vitoriosa. “Estou muito orgulhoso por fazer parte desta equipa e por celebrar o nosso quarto título mundial. Não há nada mais na minha mente”, garantiu.
A Fórmula 1, em 2024, ainda vai visitar o Qatar e os Emirados Árabes Unidos. Por decidir está o campeonato de construtores que, a duas corridas do fim, é liderado pela McLaren com 24 pontos de vantagem sobre a Ferrari.