Há gente velha com maturidade artificial e há novos a provar que, se não desperdiçarem oportunidades para aprenderem, podem ser o Einstein quando cruzam a maioridade.

Geovany Quenda é um jovem intrépido, mas consciente. Irreverente nos momentos certos e, por isso, ponderado em tantos outros. Mesmo quando em seu prejuízo, é cumpridor. É um ser que conhece as regras para as poder quebrar. Um totalmente ilógico encontro entre a frieza e a imprevisibilidade. No fundo, Quenda pode ser tudo. Isto se já não o for.

Um dia após não dar gratuitamente minutos ao petiz apenas para que este se sagrasse campeão, Ruben Amorim deixou no ar que algo maior estaria guardado para Geovany Quenda. Chegou o início da época seguinte e lá estava aquele prodigioso pé esquerdo de 17 anos a ser titular na Supertaça. Cresceu, evoluiu e venceu a Primeira Liga como figura principal. O Sporting não perdeu tempo, o Chelsea também. Rui Jorge fê-lo saltar patamares na hierarquia das seleções nacionais. Só Roberto Martínez ainda não confiou nele o suficiente, deixando que Quenda distribuísse doces pelos sub-21, no Euro, e fazendo com que seja junho e ainda possamos assistir a futebol deste gabarito.

Boris Streubel - UEFA

Os egoístas teriam enfrentado aquele muro, ido para cima da defesa da Polónia, perdido e bola e regressado para a posição a dizer “não se esqueçam que já marquei dois golos”. Mesmo que já tivesse bisado, sem arrogância, Quenda subiu ao palanque da racionalidade, observou de cima o que estava a acontecer e colocou um passe melífluo em Henrique Araújo. Antes, tinha feito o contrário. Viu os defesas e aplicou-lhes (sim, plural) um drible bravio antes de rematar com o pior pé para o lado que o guarda-redes, teoricamente, estava a controlar.

Esta é a magia de Quenda: é espetacular quando escolhe o racional e é espetacular quando o rejeita com a elegância de quem tem o dom para saber sempre qual a opção certa. Ao intervalo, foi substituído após dois golos e uma assistência. O trabalho estava feito. Estava feito o trabalho de Quenda e estava feito o de Portugal que já vencia por 4-0, dando a Rui Jorge a oportunidade de rodar ainda mais a equipa face ao que tinha feito logo no arranque quando deu a titularidade a Henrique Araújo, Flávio Nazinho e Pedro Santos.

Roger Fernandes foi cúmplice na forma como a Polónia foi ficando com o ânimo surripiado. A munificência do outro extremo, nas variações esquerda-direita, suportou os golos de Quenda e ajudou Portugal a transitar do vincado 4x1x4x1 defensivo para o ataque.

No meio-campo, a bola não tem tempo de adormecer nos pés de Diogo Nascimento. Mal chega, é recambiada para outro lugar. Incompreensivelmente, acaba sempre por voltar. Talvez porque saiba que a favorece estar sempre de um lado para o outro e fá-lo com mais confiança passando pelo microchip da seleção portuguesa. A fazer voluntariado posicional no centro do campo, o jogador do Vizela libertava Paulo Bernardo para o ataque a zonas de finalização, onde também o médio do Celtic marcou.

Boris Streubel - UEFA

O maior espetáculo que a Polónia deu foi quando Mariusz Fornalczyk errou um remate acrobático e se levantou como um ginasta enrolando-se para trás e saltando. Mesmo através de meios mais rudimentares, Kacper Kozlowski acertou no poste e Jakub Kaluzinski fez Samuel Soares ganhar um clip para os melhores momentos.

Já com a partida descaracterizada, os sub-21 demonstraram que, ao contrário do que acontece no escalão acima, a nota artística é uma preocupação, tal como o altruísmo. Portugal parecia estar a jogar à batata quente progressiva. Gustavo Sá abriu em Rodrigo Pinheiro, que devolveu a Gustavo Sá, e este distribuiu a bola para a esquerda. Rodrigo Gomes fez o 5-0.

O entulho de desperdício contra a França na primeira jornada foi reciclado frente à Polónia. A missão “Quartos de Final” ainda não está cumprida. A seleção está em primeiro lugar, com quatro pontos, os mesmos que a França. Só depois aparece a Geórgia, com três. A questão está longe de estar arrumada, mas basta não perder para seguir em frente.