Numa altura em que cada vez mais existe a necessidade de procurar investidores no futebol, Rui Alves surpreendeu os adeptos do Nacional, quando anunciou, esta quinta-feira, um acordo para a venda de 60 por cento da SAD do clube, ao Grupo Asiático ACA Football Partners. Para tal, a proposta ainda terá de ser aprovada pelos sócios do clube madeirense.

Em declarações ao Jornal da Madeira, o dirigente mostrou-se resignado à ideia de que apenas com a venda de parte significativa da SAD o clube poderá sobreviver na I Liga, com o sonho de voltar a disputar competições europeias.

O zerozero quis perceber melhor a rede de clubes do ACAFP e o histórico do grupo, que detém atualmente dois clubes na Europa, além de uma recente passagem atribulada pela Bélgica.

Passagem pela Bélgica marcada por problemas

O Grupo de Investimento de Singapura apresenta-se oficialmente como «um parceiro global» com o objetivo de estabelecer uma base de «crescimento sustentável de clubes» dos quais são donos, prometendo elevar a experiência e o potencial das equipas e respetivas «comunidades» ligadas a essas, tendo começado o seu investimento em clubes em 2022.

Deinze, o nome do primeiro investimento. Uma história que começou por ser de amor mas que terminou como um autêntico pesadelo para os adeptos da turma belga. Marcando o começo do grupo asiático no ramo do futebol europeu, o modesto emblema, fundado em 1926, encontrava-se numa situação estável, embora monótona e quase amadora, no momento em que foi adquirido.

Deinze deixou de competir esta época @KMSK Deinze

Nunca os adeptos belgas conseguiriam imaginar o carrossel de emoções por que passariam, em menos de três anos. Adquirido em fevereiro de 2022 e a disputar a Segunda Divisão Belga, o Deinze andava num sobe e desce entre a terceira e a segunda divisão da Bélgica. Situado numa cidade com mais de 45 mil habitantes, ver investimento estrangeiro surgir seria a oportunidade de conseguir mudanças nas infraestruturas da equipa e plantel, e no primeiro ano sob comando do ACAFP, o clube conseguiu garantir a manutenção na Segunda Divisão.

O pior veio depois. Numa época de alto investimento na luta pela subida à Jupiler Pro League, o clube chegou à final do play-off jogado a duas mãos, onde foi derrotado pelo Lommel SK. Poderia ser um momento de esperança e união para um projeto tão recente, mas eis que se instalou o caos.

Ao não subir de divisão, o ACAFP cortou imediatamente o financiamento do emblema belga e já no decorrer da nova época, em novembro, declarou um acordo com um novo investidor, de forma a vender o clube: o AAD Investment Group. Um sinal de esperança, talvez, mas a situação que o grupo do Luxemburgo encontrou era mais precária do que imaginado e, a 12 de dezembro de 2024, um tribunal local de Gante declarou a falência do clube.

De acordo com as páginas Euro Football News e Inside World Football, o conjunto belga estava com salários em atraso e em falência técnica, o que obrigou à desistência da participação na Challenger Pro League de 2024/25 e despromoção automática. A situação levou a uma sangria de jogadores do plantel, sendo que o último registo de atividade do emblema foi uma publicação nas suas redes sociais, quatro dias depois, a 16 de dezembro.

Em menos de três anos, o projeto que chegou a unir a comunidade da cidade e a dar reais esperanças aos adeptos de competir na maior competição de futebol belga evaporou-se.

Mais consistência em Espanha e Inglaterra

Por outro lado, os projetos de Juventud de Torremolinos e do Charlton Athletic parecem ser mais consistentes, ainda que mais recentes. Comecemos pelos espanhóis.

Adquirido em fevereiro de 2023, o clube da região de Málaga subiu de divisão no primeiro ano sob nova administração, à Segunda Divisão RFEF, após ter descido no ano anterior. O clube tem sido alvo de vários investimentos, tendo inclusive sido anunciada uma parceria em maio do ano passado, com uma equipa de formação local, a CD San Félix.

Atualmente, o Juventud de Torremolinos ocupa a primeira posição da tabela e está em boas condições para a promoção direta à Primera RFEF. O ACAFP descreve o clube como uma «plataforma para desenvolvimento de jovens jogadores com a forte ambição de subir a ligas superiores». O clube, do sul de Espanha, tem vindo a profissionalizar-se, sobretudo nas áreas das infraestruturas e da retenção de talento jovem.

Já a mais recente equipa nesta "roleta" é o Charlton FC, em julho de 2023. O grupo de investimento, com sede em Singapura, é um de sete investidores minoritários do emblema inglês. Realizando a segunda época completa com o novo investidor, o Charlton disputa atualmente a EFL League One, encontrando-se em lugares de acesso ao play-off de subida. A ambição é voltar a competir na Premier League, competição que não disputa desde a época 2006/07.

Apresentações feitas, uma nova era está prestes a arrancar para o Nacional. Há razões para acreditar em sucesso?

*com Jorge Ricardo