
João Noronha Lopes já reagiu à carta enviada pela direção do Benfica à Liga Portugal e aos clubes que a compõem, relacionada com os direitos televisivos.
A candidatura de João Noronha Lopes emitiu um comunicado face à carta enviada pela direção do Benfica, liderada por Rui Costa, à Liga Portugal e aos clubes que compõem o organismo, que pede a suspensão imediata do processo de centralização dos direitos televisivos.
João Noronha Lopes criticou a reação tardia da atual direção. Eis o comunicado:
«1. A posição hoje comunicada pelo Presidente do Sport Lisboa e Benfica, relativa ao projeto de centralização dos direitos televisivos, é, antes de mais, tardia. Nisso, é consistente com a postura que tem caracterizado a atual liderança do clube, cuja inação tem repetidamente negado ao Benfica o papel liderante que tem de assumir no futebol português. Importa por isso perguntar desde já: só agora se percebeu que a centralização dos direitos televisivos, tal como a conhecemos, é um projeto sem viabilidade?
2. Neste, como em muitos outros temas da vida do Benfica, não há coincidências. A pouco mais de 3 meses das próximas eleições do Clube, o atual Presidente aparece agora determinado a resolver em poucos dias aquilo que não foi capaz de fazer ao longo de 4 anos de mandato. Só posso presumir que a reflexão de Rui Costa sobre uma recandidatura esteja finalmente concluída.
3. Em múltiplas ocasiões, ao longo dos últimos anos, fiz saber qual é a minha posição sobre o projeto de centralização dos direitos televisivos: disse-o em Assembleias Gerais do Clube, em opinião publicada no jornal Expresso (janeiro de 2025), em entrevista recente ao jornal A Bola, e na mais recente entrevista televisiva à CMTV, há um mês. A centralização dos direitos televisivos é, desde a sua origem, um projeto potencialmente lesivo para os interesses do Benfica e, consequentemente, para os interesses do futebol português. Carece de fundamentação estratégica que nos permita perceber:
– Como e quando será levado a cabo;
– Como produzirá ganhos financeiros para os clubes que sejam ajustados à realidade e dimensão de cada clube, conducentes de uma maior competitividade a nível interno;
– Como contribuirá para a competitividade dos clubes que mais valorizam o futebol português nas competições internacionais, o principal dos quais o Benfica;
– Que quadros competitivos serão mais adequados no interesse da valorização desta indústria, mas, também, como, quando e quem conduzirá essa discussão;
– Que modelo de comercialização será apresentado aos potenciais interessados;
– Como se propõe aumentar a atratividade do espectáculo;
– Como se propõe valorizar a experiência dos muitos milhares de adeptos que vão aos estádios;
– Como pretende modernizar o produto futebol face às mudanças no setor dos media, por forma a responder às tendências dominantes de consumo de conteúdo;
4. Até há muito pouco tempo, ninguém diretamente envolvido neste processo, incluindo a atual liderança do Benfica, foi capaz de alertar de forma consequente para o elefante na sala. Ninguém foi capaz de apontar um rumo claro e definir um plano de ação. As objeções hoje colocadas chegam com anos de atraso. Revelam inércia, incapacidade e um preocupante défice de competência na liderança do Benfica.
5. A discussão sobre a centralização dos direitos televisivos continua ancorada numa suposta valorização de 300 milhões, anunciada há alguns anos, de forma pouco responsável, pelo então Presidente da Liga de Clubes, e hoje Presidente da Federação Portuguesa de Futebol. Todos sabemos que um negócio de venda dos direitos da nossa liga nunca se realizará por esse valor, muito menos quando o produto que temos para apresentar ao mercado é, não obstante o contributo determinante do Benfica, estruturalmente pobre. A responsabilidade é do primeiro proponente deste projeto, Pedro Proença, mas é também de quem se demitiu de liderar a reflexão em sede própria ou de apresentar soluções concretas que permitissem debater o projeto de forma crítica, e assim melhorá-lo. Tudo o que o Presidente do Benfica possa dizer hoje é, por isso, um reconhecimento tácito do seu próprio falhanço institucional.
6. A posição agora tomada pelo Presidente do Sport Lisboa e Benfica deve também ser questionada no contexto de outras posições, mais tímidas, com a qual fomos sendo confrontados ao longo deste mandato. Se é esta a avaliação que Rui Costa faz de um projeto determinante para o futuro do futebol português e para os interesses do Sport Lisboa e Benfica, como justifica o seu apoio à candidatura de Pedro Proença à Presidência da Federação Portuguesa de Futebol? Relembro que o apoio a Pedro Proença, assim como o projeto de centralização, foi sistematicamente questionado pelos sócios do Benfica em Assembleias Gerais e na comunicação sociais. Em face disto, que pressupostos justificam que Rui Costa tenha apoiado o principal responsável pelo projeto que, agora, o próprio Rui Costa rejeita? É isto liderar e colocar os interesses do Benfica acima de tudo? A resposta é, evidentemente, não.
7. A respeito deste tema, há pelo menos mais uma questão que deve ser colocada. A 20 de julho de 2024, o Presidente Rui Costa anunciou, a respeito de uma negociação em curso para os direitos de transmissão dos jogos do Benfica para as épocas 2026/2027 e 2027/2028, estar em vias de fechar um acordo que permitiria receber “uma verba adequada à grandeza do Benfica.” Mais recentemente, a 18 de março deste ano, o vice-presidente do Conselho de Administração da Benfica SAD, Nuno Catarino, anunciou “novidades agradáveis” relativamente a este tema. Estamos em julho de 2025 e nada se sabe sobre qual é o estado atual desta negociação, ou sequer se a negociação prossegue. Com base naquilo que sabemos hoje, a cerca de 1 ano da entrada em vigor de um novo contrato, como se explica a ausência de um acordo? Existirão de facto negociações em curso? Um desfecho negativo nesta matéria poderá ser muito lesivo em termos financeiros e condicionar a prossecução de objetivos desportivos, bem como da necessária sustentabilidade Clube e da SAD. É por isso da maior importância que Rui Costa clarifique este tema o quanto antes.
8. O Benfica não pode ser gerido ao sabor de eleitoralismos e manobras de distração que evidenciam como principal objetivo a manutenção do poder. Urge garantir ao Clube uma liderança firme que coloque os interesses do Benfica em primeiro lugar, que seja intransigente na relação com os agentes institucionais e políticos. Devemos respeitar quem nos respeita. Quem lidera o Benfica deve agir de forma decidida e não esperar pela marcação de eleições para decidir. Quem lidera o Benfica deve permanecer, sempre, fiel a um só desígnio: o de nunca permitir que a dimensão do Benfica, dentro e fora de campo, seja colocada em causa».