
No domingo passado história foi feita. O Chelsea tornou-se no primeiro (no novo formato) campeão mundial de clubes. A nova competição acabou com momentos insólitos, como a presença de Donald Trump nos festejos da equipa de Londres, mas, sinceramente, acho que nada representa mais esta competição do que esse momento.
Uma competição que tinha como principal motivo dar mais dinheiro à FIFA, numa tentativa de conseguir as mesmas receitas que a UEFA consegue, tinha tudo para correr mal, mas será que correu?
Bem, falemos primeiro somente naquele que todos gostamos, do futebol jogado. De facto a competição trouxe-nos bons jogos, com bastantes golos e até revelou para o mundo do futebol nomes que até então eram desconhecidos do público em geral, como, por exemplo, Gonzalo Garcia do Real Madrid.

Além disso, o mundial permitiu que clubes que ficam muitas vezes fora do radar da maioria do público europeu como o Al Hilal, e o quarteto de clubes brasileiros, pudessem mostrar que existe mais futebol para além do velho continente. Para o público, também foi divertido. Falando por mim, futebol em junho e julho, com vários jogos por dia é sempre bom, mas penso que os pontos positivos acabam aqui.
A maioria dos jogadores que estiveram presentes no mundial já estão de regresso às suas equipas para a pré-época, tendo muitos deles tido pouco mais de duas semanas de férias. Reparem no exemplo português, o Sporting acabou a época no dia 25 de maio, enquanto o Benfica e o Porto foram para o mundial de clubes. Os leões regressaram ao trabalho dia 1 de julho ou seja, tiveram mais de um mês de férias, um número muito superior aos seus rivais.

Acredito plenamente que os efeitos desta competição se vão começar a sentir fortemente em janeiro/fevereiro, onde, possivelmente, vamos assistir a uma queda de grande parte dos clubes europeus. Quem vai beneficiar? Os clubes que ficaram de fora do mundial. Por isso, não se admirem de verem, por exemplo, em França, uma Ligue 1 que não é encabeçada pelo PSG.
Além disso, para o ano o verão volta a ser ocupado por um mundial, neste caso o de seleções. Ou seja, muitos jogadores terão praticamente um ano de trabalho sem férias, o que afetará gravemente os jogadores a nível físico e mental.
Em termos organizativos, os Estados Unidos confirmaram o que todos temíamos. O país de Trump foi uma má escolha da FIFA. Desde jogos a serem interrompidos durante duas horas por alguns relâmpagos a estádios completamente vazios, um país que não tem alma futebolística nunca poderia ter recebido a primeira edição desta competição. Esperemos que a organização corrija os erros e para o ano as coisas sejam melhores.
Depois temos que falar do peso desta competição, ou seja, da importância. Será que esta competição vai alguma vez ter um maior estatuto? Sinceramente acho que não. Acredito que se fossem perguntar a qualquer um dos jogadores que representaram um clube europeu se prefeririam ser campeões mundiais ou vencedores do UEFA Champions League, acredito que 99% responderiam a última.

Até para a corrida à Bola de Ouro esta competição parecer ter 0 impacto, já que não deu força a nenhum dos candidatos.
Tudo isto deixa a pergunta: valeu a pena?
Se pensarmos em futebol somente como uma indústria, sim. Segundo a FIFA, cada jogo deverá ter significado, média, 24M de euros. Se olharmos para o futebol enquanto jogo e os jogadores enquanto humanos a resposta é clara: não. As organizações pedem cada vez mais. Mas os jogadores não têm mais para dar. A corda está esticada e em breve essa corda vai partir. Porque o desgaste é silencioso, mas nunca é invisível.